Presidente da Nigéria pede ajuda internacional para encontrar raparigas raptadas

Líder do Boko Haram confirma autoria do sequestro e ameaça vender as 223 jovens em poder do grupo islamista.

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Nos últimos dias, têm-se realizado manifestações a exigir a libertação das raparigas raptadas Afolabi Sotunde/Reuters

O Presidente da Nigéria pediu a ajuda dos Estados Unidos para encontrar as 223 raparigas raptadas em Abril pelo grupo islamista Boko Haram. “Apelamos aos países que nos podem ajudar (…) os Estados Unidos surgem em primeiro lugar”, disse Goodluck Jonathan.

Foi a primeira vez que o Presidente nigeriano falou no rapto de 14 de Abril. Fê-lo pressionado. Por toda a Nigéria têm-se realizado manifestações contra os islamistas, além de surgirem muitas críticas ao Governo, que se tem mostrado incapaz para travar os Boko Haram.

“Prometemos a estas jovens raparigas que, estejam onde estiverem, serão encontradas”, disse Jonathan, admitindo que pediu também ajuda ao Reino Unido e à China, e solicitou a cooperação nas investigações dos vizinhos Camarões, Chade, Níger e Benin.

Numa declaração registada em vídeo, o líder do grupo islamista, Abubakar Shekau, ameaçou vender as estudantes raptadas como noivas. A gravação, que foi obtida pela AFP, é a primeira prova concreta do envolvimento do Boko Haram (que literalmente quer dizer “A educação ocidental é proibida”) no rapto.

“Deus instruiu-me a vender as raparigas”, diz Abubakar Shekau. “Elas são sua propriedade, eu seguirei as suas instruções”, prossegue o radical islamista, que se insurge contra a educação das raparigas na escola, sublinhando que o seu destino é o casamento. Vários comentadores notaram, porém, que o video é invulgarmente omisso no que diz respeito aos detalhes do caso: Shekau não refere o número de alunas que ainda mantém sequestradas, onde se encontram ou quem serão os seus noivos.

A verdade é que as autoridades da Nigéria não fazem a menor ideia do que aconteceu às raparigas, que têm entre 12 e 18 anos. Vai-se sabendo, por testemunhos de algumas das que conseguiram fugir, o que aconteceu no liceu de Chibok.

“Eles entraram na nossa escola e nós pensámos que eram soldados. Eles tinham uniformes militares", disse ao jornal Sunday Punch Thabita Walse, uma rapariga que fugiu quando o grupo já seguia viagem, dentro de camiões. Diz outra das que conseguiram escapar, Amina Sawok: “Eles gritaram e foram grosseiros e então percebemos que eram rebeldes. Mas já era tarde de mais”.

Logo a seguir ao rapto, o Exército nigeriano chegou a anunciar ter conseguido libertar todas as raparigas, o que não aconteceu. A Nigéria é, desde 2009, quando o Boko Haram se instalou e começou a intensificar a sua luta armada pela criação de um estado islâmico no Norte, um país com um grave problema de segurança que as autoridades não conseguem gerir. Só este ano a insurreição dos Boko já fez 1500 mortos.

A região dos raptos (Boro) é conhecida por ser um dos terrenos de actividade do grupo islamista, que ao longo dos anos tem feito reféns, assim como realizado atentados à bomba.

O que o Presidente Jonathan fez agora foi admitir a sua incapacidade para controlar o grupo e seguir-lhe as pisadas.
Quanto às raparigas, podem estar ainda na Nigéria ou terem sido levadas para um país vizinho.

O governador de Boro disse, logo após o rapto, que se as autoridades não conseguissem salvar as raparigas elas seriam obrigadas a ser “escravas sexuais e domésticas”.  O que coincide com relatos na imprensa nigeriana segundo os quais algumas das raparigas do grupo terão sido vendidas como esposas muçulmanas (mesmo as que não o são). Relatos de outras raparigas raptadas noutras alturas, e que conseguiram fugir, contam a mesma história: vendidas em casamento e escravizadas.

Perante a pressão e as críticas à actuação do Governo, do exército e da polícia, e percebendo que se está a criar uma campanha internacional pela libertação das raparigas, Goodluck Jonathan pediu a ajuda internacional, mais de duas semanas depois do rapto. Os Estados Unidos, pela voz do secretário de Estado (chefe da diplomacia), John Kerry, prometeram fazer o que estiver ao seu alcance para as ajudar a encontrar.

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