Psicólogos do INEM com recorde de pedidos de ajuda

Profissionais são requisitados muitas vezes para travar tentativas de suicídio

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Daniel Rocha

Mais de um quarto das acções dos psicólogos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) no terreno foram para travar tentativas de suicídio, revelam dados relativos a 2013, ano em que este serviço de intervenção recebeu um número recorde de pedidos de ajuda.

São apelos motivados por problemas variados: a mãe cujo filho toxicodependente ameaça matar-se, o doente psiquiátrico que quer saber a quantidade de insulina suficiente para morrer, a testemunha que dá conta de alguém que se quer lançar de uma ponte. Joana Anjos, uma das 12 psicólogas do centro de apoio psicológico e intervenção em crise do INEM, explica que por vezes basta um aconselhamento telefónico para evitar o pior, sem necessidade de deslocação ao local.

A estes profissionais - que trabalham 24 horas por dia - chegam chamadas encaminhadas pelos colegas do Centro de Orientação de Doentes Urgentes do INEM, que identificam a necessidade de intervenção a nível psicossocial. Um desses casos foi o de uma mãe que ligou para o 112 porque o filho toxicodependente ameaçava matar-se. Enquanto uma ambulância e elementos da polícia se deslocavam ao local, uma psicóloga do INEM manteve-se em linha com a mãe, para ajudar a mulher a lidar com a situação. Neste caso, não foi necessário o envio de um psicólogo para o terreno, o que aconteceria se o jovem se recusasse a ir ao hospital ou insistisse em matar-se.

"Muitas vezes recebemos pedidos de ajuda dos cuidadores, que estão no limite", conta a psicóloga, adiantando que várias destas chamadas revelam a difícil história de muitas famílias.

No ano passado, 85 das 315 saídas de psicólogos, ou seja, 27%, foram por causa de tentativas de suicídio. Os psicólogos chegam a ter de negociar com os suicidas a aceitação de ajuda.

"O objectivo destas pessoas é acabar com o sofrimento e não a morte em si. Vivem uma ambivalência", refere Joana Anjos.

Até ao momento, todas as intervenções no terreno nestes casos têm sido bem-sucedidas, explica: "Não podemos falhar. Nunca abandonamos a pessoa em risco".

Contudo, as deslocações mais frequentes são as que envolvem morte inesperada, com familiares ou amigos no local. No ano passado, registaram-se 152, ou seja, 48% do total. Entre estas, estão alguns casos mais conhecidos como a tragédia com os estudantes na Praia do Meco, o acidente que há seis anos vitimou 17 pessoas da universidade sénior de Castelo Branco na A23, a morte de pescadores de Caxinas ou a recente queda de um muro junto à Universidade do Minho.

Para estas tragédias, não basta ser-se psicólogo. Por isso, estes profissionais têm uma formação específica em intervenção psicológica em crise, emergências psicológicas e intervenção psicossocial em catástrofe. No momento de apoiar um familiar ou amigo que presencia uma morte trágica, o seu grande objectivo é "minimizar o impacto da situação".

"O nosso abraço não é físico, embora possa haver toque. Validamos o sofrimento e deixamos chorar", descreve Joana Anjos, para quem as situações mais exigentes são as que envolvem a morte de crianças. "Uma boa intervenção é quando vamos embora e não fazemos falta", resume.

Pelo telefone, a equipa de psicólogos do INEM intervém noutro tipo de situações, como crises de ansiedade ou ataques de pânico, violação, abuso sexual ou violência doméstica. Em 2013 registou-se um aumento de 60% de chamadas do CODU encaminhadas para os psicólogos: 5.465 em 2012 e 8.741 no ano passado. Apesar do número de intervenções presenciais ter também aumentado, em 73% dos casos a situação resolveu-se sem o envio de psicólogos ao local.

Joana Anjos não estabelece uma ligação directa entre o aumento de pedidos de ajuda e a actual crise, nem identifica um tipo de problema que tenha crescido de forma particular. A exigência de algumas situações a que são sujeitos médicos e enfermeiros do INEM leva a que os psicólogos prestem também apoio aos próprios colegas.

Sobre os casos mais difíceis, até os psicólogos preferem não falar: "Nem gostamos de nos lembrar deles. Trabalhamos de forma a que eles desapareçam".

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