“São indispensáveis compromissos políticos” para resolver a crise, defende Faria de Oliveira

Ex-presidente da CGD discursou em nome dos seis condecorados pelo Presidente e considerou ser necessário “prosseguir uma autêntica obstinação pelo crescimento económico”.

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Faria de Oliveira Fábio Teixeira

Para vencer mais facilmente as adversidades e consequências do programa de austeridade “são indispensáveis compromissos políticos” entre todos os agentes públicos e essa atitude demonstra não apenas “inteligência” como é também “um imperativo da ética política”, defendeu esta quarta-feira o presidente da Associação Portuguesa de Bancos.

Discursando no Palácio de Belém na cerimónia em que foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, e falando em representação dos outros cinco condecorados, Faria de Oliveira comparou o país a um doente, vítima da crise financeira internacional e da crise da dívida soberana e que o deixaram numa situação “extremamente complexa e de grande fragilidade”.

“Tem-se trabalhado intensamente, com muita coragem, para pôr são um corpo que estava muito doente, certamente com medicamentos muito caros e elevados efeitos secundários, o que levou a reclamações frequentes”, descreveu Faria de Oliveira. “Ser clarividente é aceitar que para os vencer mais facilmente e mais depressa são indispensáveis compromissos políticos para aplicar com determinação e maior eficácia as causas, as questões de fundo que nos colocaram em situação tão difícil”, defendeu o antigo presidente da Caixa Geral de Depósitos.

Até porque “criticar as consequências é fácil; participar na construção da solução é não só um requisito da inteligência como também um imperativo da ética política”, vincou em seguida. Faria de Oliveira não tem dúvida do caminho a ser seguido: o país precisa de uma “visão estratégica para o desenvolvimento nacional, de seguir um rumo eficiente que possa facilitar compromissos que permitam realizar tarefas como a reforma do Estado e da Administração Pública, assegurar as reformas estruturais não acabadas, continuar o esforço de saneamento das finanças públicas, que assegurem o cumprimento das nossas responsabilidades internacionais e atacar um problema que nos deve fazer viver obcecados - as alarmantes perspectivas demográficas que requerem actuações atempadas.”

A somar a estas tarefas do Estado, há também uma obrigação geral: “Temos decididamente de prosseguir uma autêntica obstinação pelo crescimento económico, viver o dia-a-dia para atrair investimento produtivo nacional e estrangeiro. É fundamental que o investimento cresça para criar a riqueza.” Faria de Oliveira considera que Portugal tem oportunidades e condições ao nível da qualificação dos recursos humanos, da capacidade científica e de gestão, e das infraestruturas modernas.

“Não podemos falhar este projecto”, avisa Faria de Oliveira. “Há que continuar a reformular a estrutura económica, gerando mais capacidade nos sectores transaccionáveis e temos de insistir no aumento da resiliência e da capitalização das empresas, no esforço dos nossos empresários, designadamente nas exportadoras.” O bancário vinca que a internacionalização “jogará um papel da maior importância para o nosso futuro”.

O elogio dos governos cavaquistas
Faria de Oliveira, que foi secretário de Estado e ministro do Comércio e Turismo nos governos de Cavaco Silva entre 1990 e 1995 e já tinha antes sido seu secretário de Estado, assim como de Mário Soares e Francisco Balsemão, não se poupou a elogios ao Presidente da República. Descreveu-o como “o estadista que na chefia do Governo impulsionou a enorme mudança no nosso país nas várias frentes, um salto qualitativo sem precedentes em apenas uma década [o tempo dos três executivos de Cavaco]. Mudança que ficou bem patente ainda no aumento do PIB per capita em paridade de poder de compra, que passou de 7185 euros em 1985 para 14.005 euros em 1995.”

O antigo governante recordou que foi no início dos anos 90, o tempo do cavaquismo, que se definiu pela primeira vez em Portugal a política de internacionalização, criando-se instrumentos de apoio e incentivo. A estratégia de políticas públicas para a internacionalização dos executivos de Cavaco assentou na “dinâmica exportadora, na captação de investimento directo estrangeiro virtuoso criador de riqueza, de emprego e de diversificação do aparelho produtivo, na atracção de visitantes e residentes estrageiros para o nosso país, no investimento das empresas portuguesas no estrangeiro”.

E concluiu: “Os resultados falam por si.” O então ministro de Cavaco Silva diz que “a resposta da sociedade civil e das empresas, sobretudo das melhor preparadas, foi categórica”, e reconheceu que os Governos subsequentes “aprofundaram” essa estratégia de internacionalização.

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