Austeridade também provocou recessão nos movimentos sociais

Maiores dificuldades económicas levam menos pessoas a participar em protestos e iniciativas cívicas, defendem elementos de movimentos nacionais.

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À medida que a crise foi crescendo a participação cívica baixou Renato Cruz Santos

À medida que os efeitos da austeridade foram crescendo, a participação dos portugueses nas acções de protesto e em iniciativas cívicas foi sendo menor. A ideia foi defendida por vários representantes de movimentos cívicos que têm estado activos nos últimos anos em Portugal, num debate organizado em Braga a propósito dos 40 anos do 25 de Abril.

“Não acredito na ideia de quanto pior, melhor”, resume Cristina Andrade dos Precários inflexíveis. Para a activista, quanto pior são as condições de vida das pessoas, mais difíceis são de mobilizar. “É mais fácil resistir quando se tem comida na mesa e sabemos onde vamos dormir à noite”, defende, dando o exemplo de outro movimento em que esteve envolvido, o Ferve – Fartos destes Recibos Verdes onde participava gente com contrato efectivo de trabalho ou que pertencia aos quados da administração pública, mas que tinham mais condições para serem solidários.

Para a psicóloga, que esteve também ligada à fundação dou à organização da manifestação da Geração à Rasca no Porto, “o caminho a que temos vindo a assistir nos últimos anos é o da resignação”, apesar de a perda de direitos nos três anos de intervenção externa no país ser “incomparavelmente maior” do que as que tinham acontecido na década anterior, mas isso não representou uma maior abertura da população para reivindicar os seus direitos.

Esta espécie de proporcionalidade inversa entre a austeridade e a participação cívica foi a ideia transversal ao penúltimo debate de um ciclo sobre os 40 anos do 25 de Abril que está a ser organizado pelo Instituto de Educação da Universidade do Minho, dedicado ao tema dos movimentos sociais no contexto da crise, realizado esta segunda-feira, em Braga. Na sessão, Cristina Andrade também defendeu que a participação cívica “não se pode fazer só com um clique no Facebook”. Os movimentos sociais só andam para a frente com a participação das pessoas “nas coisas chatas e menos efusivas”, considera.

Inês Barbosa, que foi cabeça de lista da candidatura Cidadania em Movimento à Câmara de Braga nas últimas autárquicas, usou essa experiência como exemplo. O grupo nascido para “convocar a cidade e os cidadãos para discutir a cidade e reabilitar a sua confiança na democracia”, mas não passou dos 5,3% no escrutínio, o que não chegou para eleger um vereador. Hoje, “o movimento tem vindo a desparecer formalmente” e o seu destino “é ainda uma incógnita”, reconheceu.

João Labrincha, que esteve na origem do protesto de Março de 2011 e do movimento 12M que se lhe seguiu, argumenta que apesar de a manifestação ter tido bons resultados – “colocamos a questão da precariedade na boca do povo”, defende – o grupo não conseguiu “fazer passar a segunda parte da mensagem”, que dizia respeito à participação cívica. “As pessoas continuavam a dizer-nos que tínhamos que organizar mais protestos, quando o quer pretendíamos era que fossem elas a perceber que podiam organizá-los”.

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