João XXIII e João Paulo II são santos porque tiveram "coragem e espírito de liberdade”

Domingo foi um dia extraordinário para a Igreja Católica. Foi o dia dos quatro papas. Perante quase um milhão de pessoas, Francisco e Bento XVI juntaram dois santos ao seu panteão.

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João Paulo II, o mais adorado pela multidão Stefano Rellandini/Reuters
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Os dois papas vivos, Bento XVI e Francisco Osservatore Romano/Reuters
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Os odis novos santos, João Paulo II e João XXIII Kacper Pempel/Reuters
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A multidão na Praça de São Pedro Max Rossi/Reuters
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Foram homens com “coragem, espírito de liberdade e espírito santo”. Por isso, “contribuíram para o desenvolvimento dos povos e para a paz”. Neste domingo, na Praça de São Pedro, no Vaticano, Francisco proclamou santos os papas João XXIII e João Paulo II.

Dos 226 papas que dirigiram a Igreja Católica, perto de 80 foram canonizados. Mas esta cerimónia foi inédita. Pela primeira vez, dois papas foram santificados em simultâneo. Pela primeira vez numa História de dois mil anos, dois papas presidiram a uma missa — são dois os papas que hoje têm os católicos, um de facto e um emérito, Bento XVI, que surpreendeu o mundo ao afastar-se, por razões de saúde, no ano passado, abrindo caminho a outra estreia, a eleição do primeiro Papa sul-americano, Francisco.

Remetendo-se ao papel secundário que disse que iria assumir, Bento XVI ocupou a sua discreta posição à esquerda no altar. Mas a sua presença na magnífica encenação que foi a santificação dos dois pontífices foi notada e um enorme aplauso rebentou na praça, e não só. Entre 800 mil e um milhão de pessoas quiseram assistir às santificações, e a praça central do pequeno Vaticano, que só pode albergar 300 mil pessoas, transbordou para as ruas e avenidas romanas adjacentes. Muita gente pôde seguir a cerimónia noutros lugares de Roma, todos emblemáticos — Coliseu, Fórum Romano, Praça Farnese... —, onde foram instalados 17 ecrãs gigantes. À cerimónia, e segundo a AFP, assistiram 67 delegações oficiais e 24 chefes de Estado, assim como alguns reis, por exemplo os espanhóis, Juan Carlos e Sofia.

Quase um milhão de gente, portanto, presenciou o ritual com que a Igreja Católica proclama um santo. O processo que antecede a decisão é complexo — é preciso confirmar os milagres e esbater as polémicas, como as que envolveram João Paulo II; o Papa peregrino e que é reconhecido como um dos homens que ajudaram a derrubar a Cortina de Ferro, foi acusado de ter encoberto durante as décadas do seu pontificado os crimes de pedofilia na sua instituição. Mas o momento em que tudo se concretiza é simples e rápido.

 A cerimónia começou com a oração das laudes. Depois, o cardeal Angelo Amato, perfeito para a Causa dos Santos — a instituição da Santa Sé responsável pelos processos de beatificação e canonização —, fez três perguntas a Francisco, tal como está previsto na liturgia para estes dias. “Santo Padre, a Santa Igreja confiante nas promessas do Senhor de enviar o Seu espírito de verdade, que em todas as épocas a preservou do erro do magistério supremo, com força implora a Vossa Santidade que gentilmente inclua estes filhos eleitos no catálogo dos santos”, disse o consagrado.

Ao que o Papa Francisco recitou o texto, em latim, lido nas santificações. A fórmula é longa, eis a frase de conclusão: “Declaramos e determinamos santos os abençoados João XXIII e João Paulo II, e inscrevemo-los no catálogo dos santos e estabelecemos que em toda a Igreja eles sejam devotamente honrados entre os santos.” Sobre o altar instalado na Praça de São Pedro, estavam os retratos de Angelo Roncalli (Papa entre 1958 e 1963) e Karol Wojtyla (1978-2005). No fim da recitação da fórmula, ouviram-se todos os sinos do Vaticano e de Roma. 

Sobre estes dois papas, santos desde ontem, Francisco disse: “Padres, bispos, papas do século XX, eles conheceram a tragédia, mas não vacilaram. Neles, Deus foi mais forte. Neles, a misericórdia de Deus era maior.” Acrescentou que eram dois homens “contemplativos das feridas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia”, e, por isso, mantiveram “viva a esperança com uma alegria indizível e gloriosa”.

Do Papa polaco, Francisco lembrou que queria ser recordado como um “Papa da família” — o actual pontífice aproveitou para lembrar aos fiéis que a Igreja Católica está a preparar com os bispos e as comunidades os sínodos do próximo ano, em queo tema será a família. A João XXIII, o actual chefe da Igreja Católica chamou “pastor e guia” e recordou o Concílio Vaticano II, que se realizou entre 1961 e 1965 e que foi uma tentativa de actualizar a Igreja. João XXIII e João Paulo II, disse o Papa, “restauraram e actualizaram a Igreja segundo a sua fisionomia original”.

Com Bárbara Wong

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