Vasco Lourenço diz que quem está no poder se assume como herdeiro dos vencidos de Abril

Associação 25 de Abril comemora os 40 anos da Revolução no Largo do Carmo, em Lisboa.

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Vasco Lourenço evocou as "gratas recordações" do Largo do Carmo em 1974 José Antunes

Impedida de discursar na Assembleia da República, a Associação 25 de Abril tinha o Largo do Carmo, em Lisboa, apinhado de gente na manhã desta sexta-feira, numa homenagem ao capitão Salgueiro Maia.

"Os detentores do poder assumem-se, cada vez nais, como os herdeiros dos vencidos do 25 de Abril de 1974", disse Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril.

"Se a nossa presença é tão desejada na Assembleia da República, tão imprescindível e tão insubstituível, não compreendemos o medo, sim o medo, de nos olharem para além da cereja em cima do bolo", disse, aludindo à impossibilidade de poderem discursar, neste dia, no Parlamento.

O militar de Abril avisara que não ia fazer a intervenção que preparara para ser lida na Assembleia da República. E assim fez. Fez uma intervenção crítica com a actual situação do país, sublinhada por aplausos e apupos consoante os temas, as situações e as personagens evocadas. Os temas abordados passaram pelo regresso da emigração em massa, o desemprego "avassalador", o "regresso do medo" ao desrespeito pela dignidade humana, a destruição do Estado social e o desrespeito pela Constituição.

Vasco Lourenço lembra que "numa democracia não existem assuntos tabús. Por isso não devemos ter receio de discutir a nossa pertença à União Europeia e ao euro. Pertencemos à Europa (...) mas não queremos, não aceitamos ser o lumpemproletariado da Europa".

"A desvergonha é tanta que, no Governo, ao mais alto nível, há até quem se atreva a falar de uma nova restauração, fazendo de conta que não sabe que o novo 1640 está mesmo a caminho com a inevitável defenestração dos Miguéis de Vasconcelos que por aí andam", adivinha Vasco Lourenço. "Neste local simbólico que tão gratas recordações nos traz, podemos e queremos dizer, sem qualquer hesitação, que quem nos desgoverna subiu ao poder fazendo promessas que não cumpriu", salienta.

Porque o país "está a ser destruído", o capitão de Abril defende a mobilização. "Temos de nos mobilizar a fundo para pôr cobro a uma situação que seria impensável há meia dúzia de anos". E anuncia: "Estamos a incentivar as acções da sociedade civil que vêm despertando, assumindo a contestação e dando sinais inequívocos ao poder, os quais a não serem entendidos, provocarão forte contestação social com violência em pano de fundo."

"Não duvidamos, temos de ser capazes de expulsar os vendilhões do templo, os desmandos e tragédia da actual governação não podem continuar", insiste.

Na presença de Mário Soares, que trocou a cerimónia no Parlamento pelo Largo do Carmo, e foi fortemente ovacionado à chegada, Vasco Lourenço declara: "Temos de ser capazes de retomar as Presidências de boa memória de Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio". Na assistência estavam ainda Maria Barroso, Vítor Ramalho, João Semedo, Arnaldo Matos, Marisa Matias e Júlio Isidro.

Quem estava no Largo do Carmo dirigiu-se de seguida para o Chiado, para a Rua António Maria Cardoso, em direcção à antiga sede da PIDE, para homenagear os quatro mortos do 25 de Abril.

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