O cante da terra segundo Sérgio Tréfaut

O realizador faz a partir do cante alentejano uma espécie de retrato sensorial daquela região portuguesa

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Não foi por acaso – e Nuno Sena, director do festival, confirmou-o na sua introdução – que o IndieLisboa escolheu apresentar o primeiro filme português da edição 2014 do festival na noite de 24 de Abril, ainda fresquinho da sala da montagem.

Os primeiros momentos de Alentejo, Alentejo desenrolam-se ao som da Grândola, Vila Morena de José Afonso, uma das “senhas” musicais do 25 de Abril e ainda hoje um dos “cartões-de-visita” para o cantar a capella das planícies alentejanas.

O que Sérgio Tréfaut faz a partir do cante alentejano ao longo da hora e meia de Alentejo, Alentejo, contudo, é outra coisa: uma espécie de retrato sensorial daquela região portuguesa tendo o cante como centro de gravidade, um trajecto pelo último meio século do Alentejo que usa o cante como “revelador” e “catalisador” do que mudou (e do que não mudou) a sul do Tejo. É, também, um filme que se inscreve na linhagem dos anteriores documentários do realizador, Lisboetas (2004) e A Cidade dos Mortos (2009) – uma busca do que faz, explica e mantém unida uma comunidade, e se há coisa que o cante alentejano é por natureza é comunitário.

Talvez seja isso que explique porque é que, ao recentrar o seu olhar numa comunidade portuguesa, depois de ter olhado para os imigrantes em Lisboa e para os “ocupantes” dos cemitérios cairotas, Tréfaut capta com uma sensibilidade notável a alma de uma região que se revela através da sua música. Fê-lo em presença de alguns dos grupos de cantadores que vieram a Lisboa assistir à estreia – e os Mineiros de Aljustrel não quiseram deixar de marcar a ocasião com uma interpretação de Grândola, Vila Morena em plena plateia do São Jorge, após a projecção. Afinal, já passava da meia-noite e 25 de Abril já tinha nascido.

 

Alentejo, Alentejo volta a ser exibido sábado 26 às 16h15 no cinema São Jorge

 

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