Obama chega à Ásia para redireccionar a diplomacia americana e conter a China

A região que o Presidente americano disse ser prioritária foi ficando para trás na agenda e há analistas que dizem que o tempo perdido foi crucial e pode ser irrecuperável.

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Obama chega quarta-feira a Tóquio, onde a embaixada dos EUA já está protegida por um cordão policial Yuya Shino/Reuters

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, partiu esta terça-feira para a visita tantas vezes planeada e adiada à Ásia. Estará no Japão, Malásia, Filipinas e Coreia do Sul. A China não está no itinerário, mas sendo ela o leitmotiv de Obama, o que o antigo analista da CIA Christopher Johnson quer saber é se o Presidente conseguirá evitar o “palavrão que começa por C” nesta sua semana asiática.

A sombra de Pequim, explicou Johnson à AFP, vai acompanhar Obama em toda a viagem asiática que, oficialmente, é mais um passo na procura do chamado “reequilíbrio”, o nome que o Presidente americano deu à nova estratégia geopolítica da América que há anos – tal como a viagem – foi sendo adiada.

Obama começou a falar na recentragem da diplomacia americana no primeiro mandado e avançou com a estratégia do “reequilíbrio” no segundo (em 2011), recuperando, como explica o The New York Times, a tese do antigo Presidente George Bush (o pai) de que a Ásia seria o novo motor do mundo (na diplomacia, na produção, na influência).

Agendada duas vezes, a viagem à Ásia foi sendo adiada por força das circunstâncias internas (o Congresso) e externas. No segundo mandato, Obama foi obrigado a trabalhar com um Congresso hostil (dominado pelos republicanos) e a lidar com as crises no Médio Oriente e a guerra na Síria, com o Irão (com quem trabalha uma reaproximação) e, mais recentemente, com a Ucrânia. 

A Ásia, que Obama proclamou prioritária, foi ficando para trás e há analistas que dizem que o tempo perdido foi crucial e pode ser irrecuperável. “O Presidente passou tanto tempo a caminhar para tantas direcções que receio que não tenha desenvolvido as relações de que precisava para poder fazer a aproximação que quer à região”, disse ao The New York Times o antigo subsecretário de Estado para a Ásia Oriental, Christopher R. Hill. “É que na Ásia não basta mostrarmos que damos a nossa melhor atenção às questões, temos também que mostrar que lhes dedicamos bastante tempo”.

Enquanto Barack Obama andou a resolver outras questões do mundo, a Ásia evoluiu e tornou-se mais complexa e impremeável aos avanços americanos – a região está, mais do que nunca, ligada à China, que não hesitou em abrir disputas regionais no caminho da hegemonia.

Tensões regionais
Pequim disputa territórios com os vizinhos Japão, Coreia do Sul e Filipinas (entre outros), as relações entre Pequim e Tóquio estão no nível zero, más estão igualmente as relações entre Seul e Tóquio devido a feridas de guerra que nunca sararam (as "mulheres de conforto" e as homenagens dos líderes japoneses aos seus heróis da guerra, no santuário de Yasukuni, que, para a Coreia do Sul, são criminosos de guerra). Pequim alargou as suas áreas de pesca e as suas zonas de vigilância aéreas, o Japão fez o mesmo. 

Já este mês, numa visita a Pequim, o secretário americano da Defesa, Chuck Hagel, acusou os chineses de estarem a alimentar conflitos para estenderam a sua influência. O ministro chinês da Defesa, Chang Wanquan, respondeu-lhe na mesma moeda – são os EUA que acirram as tensões regionais porque têm objectivos expansionistas. O general Chang acabaria a dizer que Pequim “não fará compromissos, concessões ou tratados” com o Japão ou com outros países com quem tem disputas.

Japão, Filipinas e Coreia do Sul são os eixos da presença americana naquela região da Ásia – em Manila, Obama vai assinar um novo tratado militar que abre mais bases navais e aéreas aos militares americanos. “A premissa da estratégia  de Obama – o poder da América tem que seguir os seus interesses económicos – ainda faz sentido, dizem os seus conselheiros. Mas reconhecem que enfrenta desafios pungentes, que exigem que actue com muito equilíbrio e cautela”, escreveu o The New York Times depois de ouvir fontes da Casa Branca e da Defesa.

Entre esses desafios, que se adensaram nos tais anos que Obama demorou a ir à Ásia, está a posição dos próprios aliados regionais. Durante décadas, beneficiaram da segurança que a presença americana lhes deu e, por um lado, ainda desejam essa presença estabilizadora. Mas não vêem nada de bom nesta velha aliança se o pano de fundo for um grande antagonismo e tensão entre Pequim e Washington.

Obama não irá à China. Mas a China estará em toda a sua viagem asiática onde andará à procura de estratégias para a sua política de “reequilíbrio” sem mostrar o outro lado do jogo, uma segunda estratégia para a Ásia, o tal palavrão começado por “C” – de “Contenção” da China.

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