Câmara de Gaia poderá tentar comprar empresa de resíduos por seis milhões de euros

Autarquia admite investimento na Suldouro, com Santa Maria da Feira, para evitar privatização. Câmara, que deve 315 milhões, vai enviar para o MP as contas da Gaianima por suspeita de irregularidades. Autarca diz que município pagou dezenas de milhares de euros a "agentes políticos" em contratos de fachada.

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Secretário-geral do PS esteve presente na apresentação de Eduardo Vítor Rodrigues DR

A Câmara de Vila Nova de Gaia pondera comprar a Suldouro – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos Urbanos para evitar que a empresa fique nas mãos de privados. “O Governo perguntou se queremos vender as nossas [acções]. Somos contra a privatização que terá efeitos perversos nos munícipes de Gaia, especialmente com o aumento das tarifas. Não iremos vender”, garantiu esta segunda-feira o presidente da câmara, Eduardo Vítor Rodrigues, na reunião do executivo.

O socialista defendeu a ideia de que Gaia deverá “ir a jogo em consórcio" com a Câmara de Santa Maria da Feira e comprar as acções que a Empresa Geral do Fomento (EGF) detém na Suldouro. Actualmente, Gaia detém 25% e Santa Maria da Feira 15% da empresa. Os restantes 60 por cento pertencem à EGF (grupo Águas de Portugal), que o Governo quer privatizar ainda este ano.

O autarca afirmou que cada acção custará 15 euros e que está em negociações com Santa Maria da Feira para, se necessário, investirem cerca de 6 milhões de euros na compra dos 60% da EGF. Porém, Eduardo Vítor Rodrigues adiantou outra opção, sugerindo apenas a compra de 11% para obter a maioria do capital e assim o controlo da empresa.

“Mas calculo que o Governo vá impedir os municípios de irem a esse jogo. Nesse caso acho que a LIPOR poderia investir”, referiu. Para o socialista, é importante que as autarquias controlem a Suldouro para “terem uma voz nas decisões” relativas, por exemplo, aos tarifários cobrados aos munícipes  e assim defender os seus interesses. “Este negócio é altamente lucrativo. Seriamos rapidamente ressarcidos pelo investimento”, justificou ainda.

A decisão da Câmara de Gaia relativamente à Suldouro foi adiada para a próxima reunião, quando os vereadores tiverem mais informação. A hipótese de levar por diante este investimento foi discutida numa reunião marcada pela aprovação por unanimidade do relatório e contas do município relativo a 2013.

Gaia tem um passivo total de 315 milhões de euros, valor consolidado com as contas das empresas municipais. Só a autarquia deve 196 milhões, a empresa Águas de Gaia 92 milhões, a Gaiurb 13 milhões e a Gaianima 14 milhões. Porém, segundo Eduardo Vítor Rodrigues, há que juntar a estes valores mais dois processos já em execução no Tribunal Fiscal e Administrativo do Porto no valor total de 62 milhões.

Face a estes valores, o presidente da câmara salientou que a situação financeira é “preocupante  e grave e exigiu já uma travagem a fundo”. Aliás, de Outubro a Dezembro, a autarquia assumiu compromissos no valor de 144 mil euros. “Estou convencido de que há juntas que já assumiram mais”, apontou o autarca socialista.

A discussão inflamou-se com o vereador do PSD e ex-vice-presidente do município Firmino Pereira que, num longo discurso, elogiou “a boa gestão” de Luís Filipe Menezes ao longo de 16 anos. O vereador defendeu que a “situação é positiva” e que a divida até baixou nos últimos anos.

Num acesa troca de palavras, Eduardo Vítor Rodrigues reafirmou que vai enviar o relatório e contas da Gaianima para o Ministério Público por suspeita de irregularidades, denunciando a “existência de contratos milionários facturados mas sem que se vislumbre a sua execução ou o seu cumprimento por parte do fornecedor”.

Aliás, o presidente da câmara deu ainda conta de que no mapa de pessoal da autarquia existiam “avultadas avenças” com inúmeros “agentes políticos” contratados, mas que, suspeita, “não terão efectivamente prestado qualquer serviço” na câmara ou nas empreas municipais. Os contratos existiriam apenas para justificar os pagamentos. Essa “rede clientelar” terá custado dezenas de milhares de euros “só em 2012”, adiantou.

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