Rebeldes recusam acordo de Genebra e Timochenko apela à resistência armada contra a Rússia

Candidata presidencial foi até Donetsk defender a constituição de brigadas de voluntários para combater os militantes pró-russos, que rejeitam os termos do acordo internacional para o fim da crise no Leste da Ucrânia.

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Activista em Lugansk coloca um poster pedindo um referendo sobre a independência Vasily Fedosenko/REUTERS
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Timochenko em contacto com voluntários à resistência armada contra a Rússia no Leste da Ucrânia ALEXANDER PROKOPENKO/AFP
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Ao centro, de barba escura, Denis Pushilin, líder da auto proclamada república popular de Donestsk Baz Ratner/REUTERS

Um dia depois da assinatura de um acordo internacional para uma solução pacífica da crise militar e política no Leste da Ucrânia, já caíram por terra as esperanças de normalização das relações entre o Governo de Kiev e os separatistas pró-russos, que empreenderam uma campanha pela auto-determinação de Donetsk. “Ninguém assinou nada em nosso nome”, resumiu o porta-voz dos rebeldes, Denis Pushilin.

Horas depois de os militantes secessionistas terem desafiado os termos do acordo de desarmamento e desocupação de edifícios governamentais, assinado na quinta-feira em Genebra pela Ucrânia e representantes da Rússia, Estados Unidos e União Europeia, a antiga primeira-ministra e candidata à presidência Iulia Timochenko chegava a Donetsk para apadrinhar a formação da primeira brigada de voluntários dispostos a defender a Ucrânia da agressão da Rússia.

Amparada por um guarda-costas, Timochenko criticou as manobras russas na Ucrânia, “que estão a ser planificadas há anos”, e convidou a população a juntar-se ao seu “movimento de resistência” e defesa do país – que até inclui um plano de reintegração da Crimeia, anexada pela Rússia em Março, cujos contornos se escusou a divulgar. “Devemos fazer tudo o que pudermos para acabar com as ditaduras e os regimes totalitários no espaço pós-soviético”, considerou.

Na capital, o Presidente ucraniano, Oleksander Turchinov, e o primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, falavam de unidade e reconciliação nacional numa nova declaração televisiva conjunta. “O Governo ucraniano está preparado para levar a cabo uma ambiciosa reforma constitucional para fortalecer os poderes das regiões”, garantiu Iatseniuk, acrescentando que nesse processo a língua russa será protegida por um estatuto especial.

Mas para assegurar “a paz e a compreensão entre todos os cidadãos ucranianos”, o Governo admite alargar esse estatuto a qualquer outra língua utilizada pela maioria da população de uma determinada localidade – como o húngaro, romeno ou eslovaco, que são prevalentes na região oeste da Ucrânia.

Nas cidades ocupadas das províncias de Donetsk e Lugansk, o impasse continua. Em declarações aos jornalistas, o porta-voz da autoproclamada "república popular de Donetsk", Denis Pushilin, informou que os activistas e combatentes que apoiam a autodeterminação da região não se sentem obrigados a respeitar um acordo internacional que – denunciou – já está a ser violado pelas autoridades de Kiev com a sua insistência em manter o Exército ucraniano na região. “Prevejo uma escalada do conflito”, estimou.

Os separatistas, que não reconhecem legitimidade política ao Governo interino de Kiev, dizem que só aceitarão abandonar os edifícios governamentais e administrativos ocupados e entregar as armas após a realização de um referendo de autodeterminação – que convocaram para 11 de Maio.

Também o embaixador da Rússia junto da União Europeia, Vladimir Chizhov, considerou que o Governo ucraniano “está a fazer uma interpretação errada” do documento assinado em Genebra, "em particular no aspecto de só se aplicar às províncias do Leste e do Sul ou às outras regiões que reclamam o federalismo”. Em declarações à televisão Russia-24, o diplomata observou que o acordo também é válido para Kiev, e portanto obriga à desocupação da praça da Independência (Maidan) onde ainda estão concentrados os manifestantes pró-europeus que forçaram a demissão do Governo do Presidente Viktor Ianukovich.

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