As mãos invisíveis de Vladimir Putin

Para Putin, a Ucrânia e o gás é jogar à defesa. Apoiar partidos eurocépticos já é jogar ao ataque.

É o próprio Putin que, numa conversa telefónica com a chanceler alemã, reconheceu que a Ucrânia está “à beira de uma guerra civil”. E tem razão. Já são dez as cidades onde os edifícios governamentais foram ocupados por pró-russos. E, quando o Exército ucraniano se preparava para recuperar zonas e edifícios controlados por rebeldes pró-russos, estes apoderaram-se de seis blindados na cidade de Kramatorsk. E já há relatos de soldados ucranianos que terão desertado. Kremlin já não esconde ao que vem. Serguei Lavrov mostrou a porta da federalização como a única saída possível para a crise.

Putin não se limita a querer usar a Ucrânia como uma espécie de Estado tampão para aquilo que crê serem as pretensões expansionistas do Ocidente a leste. É bom recordar que foi a intenção de a Ucrânia assinar um acordo de associação com a União Europeia que desencadeou toda a crise. Na conversa com Merkel, Putin voltou a lembrar a importância de estabilizar a economia ucraniana para manter o fornecimento de gás russo à Europa. Um assunto ao qual Berlim é particularmente sensível.

Mas Putin não se contenta em querer preservar o que acha que deve ser a sua zona de influência. A recepção de braços abertos no Parlamento de Moscovo de Marine Le Pen, a líder do partido de extrema-direita francês Frente Nacional, é apenas mais um exemplo da estratégia do Presidente russo de aumentar as afinidades com vários partidos de extrema-direita na Europa. Apoiar os eurocépticos a ocidente já não é uma estratégia de defesa de Putin. É ganhar aliados e passar ao ataque. É ganhar apoios dentro da própria União para impedir que os europeus se atrevam a transpor um novo “muro” a leste que Putin concebeu e que quer transformar numa espécie de barricada geopolítica.
 

  

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