Turcos, arménios e europeus, comemoremos, juntos e na Turquia, o genocídio arménio!

Apelamos a todos os que partilham os valores do reconhecimento, da solidariedade, da justiça e da democracia, que se juntem a nós a fim de virarmos finalmente a página a um século de negacionismo.

Em 1915, segundo um plano premeditado com execução metódica, um milhão e meio de arménios foram assassinados no Império Otomano, com o objectivo de destruir a sua civilização. Os arménios foram vítimas de um genocídio que haveria de ficar como uma funesta referência para os seus vindouros.

Desde então, os sucessivos governos turcos lutaram com tenacidade para fazer esquecer esta sombra do passado do seu país.

Ainda hoje, particularmente na Turquia, a simples enunciação desta verdade histórica suscita, contra quem a faz, oposições ferozes, ameaças físicas e por vezes até mortes. O negacionismo alimenta o racismo e o ódio contra os arménios e outras minorias não-muçulmanas.

Há quem queira fazer-nos crer que o reconhecimento do genocídio arménio como realidade é um ataque contra os turcos e a “turquicidade”, quando, na verdade, é um ataque contra o negacionismo, em prol da justiça e da democracia.

Agora, passados alguns anos, uma parte da sociedade civil turca organiza com coragem a comemoração do genocídio arménio. Um círculo virtuoso de verdade e de justiça tem-se ampliado a um número cada vez maior de indivíduos, unidos numa crescente demonstração de humanidade para fazer frente ao discurso oficial negacionista.

No ano passado, pela primeira vez em quase um século, uma delegação estrangeira, composta por dirigentes de diáspora arménia e dirigentes anti-racistas europeus, tomou parte nas comemorações na Turquia, em resposta ao apelo à solidariedade lançado pela sociedade civil turca.

Juntos a 24 de Abril de 2013, mostrámos que aqueles que, na Turquia, reconhecem e comemoram o genocídio arménio, estão não apenas mais determinados mas são publicamente mais numerosos do que aqueles que o negam. Mostrámos que uma parte da sociedade turca, apegada aos valores da democracia e dos direitos humanos, está pronta a enfrentar o seu passado com lucidez.

Este ano, todos juntos, militantes anti-racistas, dirigentes da sociedade civil, cidadãos empenhados, intelectuais e artistas, da Turquia e de vários países europeus, de origens diversas mas unidos pelo desejo de ver a verdade histórica enfim reconhecida, comemoramos, na Turquia, no dia 24 de Abril de 2014, o genocídio arménio, que persiste como uma herança do presente no momento em que nos encontramos nos alvores do centenário de sua perpetração.

A nossa iniciativa partilhada é uma iniciativa de reconhecimento, de solidariedade, de justiça e de democracia.

É uma iniciativa de reconhecimento na qual se permite simultaneamente aos membros da diáspora arménia e aos arménios da Turquia, que resistiram no exílio, chorar abertamente os seus antepassados, tal como permite às organizações e cidadãos turcos de pedir perdão aos descendentes das vítimas por alguns dos seus ancestrais.

É uma iniciativa de solidariedade entre todos aqueles que se batem pela verdade histórica. A linha divisória não é entre turcos e arménios, mas entre aqueles que se batem pelo reconhecimento do genocídio arménio e os que promovem o negacionismo. Numa palavra, não é uma questão de origens, mas sim de ideias, de um projecto comum.

É uma iniciativa de justiça. Como disse Elie Wiesel, “o genocídio mata duas vezes, a segunda pelo silêncio”, o que quer dizer que o negacionismo perpetua o genocídio, que é o acto mais violento a que o racismo pode conduzir. Combater o negacionismo é tentar apaziguar o trauma transmitido nas comunidades arménias de geração para geração. É batermo-nos contra o racismo, por uma sociedade mais igualitária e mais justa. É oferecer às novas gerações uma oportunidade de encararem juntas o seu futuro.

Finalmente, é uma iniciativa pela democracia. Não somente porque levantar o tabu do genocídio é uma condição indispensável para fazer progredir a liberdade na Turquia, mas também porque, como lembrava Jorge Semprún, a democracia exige vitalidade à sociedade civil. Reforçar os laços entre as sociedades civis é dar alento aos que lutam para promover a democracia na Turquia, assim como no resto da Europa.

Assim, no próximo dia 24 de Abril, comemoraremos, juntos e na Turquia, o genocídio dos arménios, ou apoiaremos os que o farão, e apelamos a todos os que partilham os valores do reconhecimento, da solidariedade, da justiça e da democracia, que se juntem a nós, a fim de virarmos finalmente a página a um século de negacionismo.

Paul Morin, director exxcutivo do Movimento Anti-racista Europeu – EGAM (Europa), Cengiz Algan e Levent Sensever, porta-vozes da Iniciativa Cívica Durde! (Turquia), Alexis Govciyan e Nicolas Tavitian, dirigentes da União Geral Arménia para a Benevolência – Europa, Ayse Öktem, porta-voz da Plataforma Campanha para Confrontar um Século de Negação (Turquia); e Charles Aznavour, Bernard Henri Lévy, Abdullah Demirbas, Ara Toranian, Serge Klarsfeld, Murat Timur, Gilbert Dalgalian, Bernard Kouchner, Adam Michnik, Ragip Zarakolu, Roni Margulies, Jovan Divjak, Ömer Laçiner, Tahar Ben Jelloun, Gençay Gürsoy, Dario Fo, Ferhat Kentel, André Glucksmann, Murat Celikkan, Korhan Gümüs, Yves Ternon, Yann Moix, Sinan Özbek, Oliviero Toscani, Cindy Léoni, Sonia Aïchi, Séta Papazian, Sacha Reingewirtz, Jean Yériché Gorizian, Richard Prasquier, Edward Mier-Jedrzejowicz, Öztürk Türkdogan, Alma Masic, Armen Artwich, Deyan Kolev, Faik Akçay, Sonia Avakian-Bedrosian, Marian Mandache, Raffi Kantian, Çagla Oflas, Elina Chilinguirian, Raba Gjoshi, Ayse Gözen, Patrick Donabedian, Mario Mazic, Ümit Kurt, Elena Gabriielian, Zeynep Tanbay, Jovana Vukovic, Akif Kurtulus, Haik Garabedian, Sezai Temelli, Erika Muhi, Gazi Giray Günaydin, Simon le Grand, Tatyos Bebek, Céline Gulekdjian, Katalin Barsony, Nurcan Kaya, Inge Drost, Alain Daumas, Gueguel Khatchatouryan, Adriatik Hasantari, Maja Micic, Elio Montanari, Hrant Kostanian, Marcel Kabanda, Filiz Montanari, Harout Palanjian, Güven Gürkan Öztan, Héléne Piralian, Miroslav Broz, Yildiz Önen, Valentina Poghosyan, Maria De França, Areg Barseghyan, Metin Algan, Balasz Denes, Ergun Günrah, Cem Rifat Sey, Witold Klaus, Jörn Sudhoff , Dogan Özguden, Katarzyna Kubin, Zeynep Tozduman, Kalle Larson, Inci Tugsavul, Renée Le Mignot, Haluk Ünal, Nick Lowes, Aldo Merkoci, Ahmed Moawia, Jette Moller, Angela Scalzo, Nicolai Radita, Boris Raonic, Paula Sawicka, Jacques Bérès, Bruce Clarke, Ina van Looy, Eduardo Lorenzo Ochoa, Stéphane Mirdkian, Atilla Dirim, Mato Hakhverdian, Roni Alasor, Sebu Aslangil, Irena Borisova, Ofer Bronchtein, Chan E.S. Choenni, Andrei Dragomir, Loris Toufanian, Lina Gidlung, Janette Gronsfort, Merle Haruoja, Pierre Henry, Hristo Ivanovski, Krassimir Kanev, Anhelita Kamenska, Joël Kotek, Hakob Kazandjian, Jacky Mamou, Irina Ghaplanyan, Anna Šabatová, Ahmed Samih, Dominique Sopo, Rune Steen, Muhammadi Yonous, Pierre Tartakowski, Forum Européen des Roms et des Gens du Voyage, Fédération Internationale des Droits de l’Homme, Nicolai Romashuk Hairabedian, Lisa Abadjian, Mikaail Domanian, Souren Seraydarian, Silva Chemedikian, Harout Mamikonian, Apet Georges Iskenderian, Ophelia Khachatryan, Kate Markaryan, Anelga Aslanian Harout Mamikonian

(este texto pode ser subscrito online em: http://www.remember24april1915.eu/.)

 

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