Sociólogos juntam-se em Évora para ouvir Ulrich Beck e discutir democracia

Congresso Português de Sociologia, que esta segunda-feira arranca em Évora, tem por mote “40 anos de democracia (s) – progressos, contradições e prospectivas”.

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“Numa altura de crise, devia haver mobilização de conhecimento científico para que as políticas públicas fossem mais eficazes”, avisa Teixeira Lopes Público (arquivo)

Ulrich Beck, um dos mais influentes sociólogos da actualidade, abre esta segunda-feira o VIII Congresso Português de Sociologia, que durante três dias decorrerá na Universidade de Évora. Espera-se que fale sobre a Europa, que ele considera em risco de se transformar numa “Europa Alemã”, contrária a uma união baseada na solidariedade entre nações.

Ulrich Beck é um dos maiores representantes do que é a ciência hoje, comenta João Teixeira Lopes, que coordenou o conselho do programa do congresso organizado pela Associação Portuguesa de Sociologia. Como o britânico Anthony Giddens e o americano Scott Lash, desenvolve o conceito de “modernidade reflexiva” para caracteriza a sociedade contemporânea.

 “Esta é uma modernidade que se questiona a si própria, em contraste com o que se passava em décadas anteriores, em que o progresso, por exemplo, não se questionava, era encarado como o caminho para o futuro glorioso”, explica o vice presidente da Associação Portuguesa de Sociologia, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Não uma, mas muitas modernidades são possíveis num mundo que estimula a crítica activa e o autoconfronto.

Na perspectiva de Ulrich Beck, o que existe é uma “sociedade de risco”. A essência de tudo é a incerteza. E uma nova mobilização política é necessária para que o risco não seja segredo, para que haja maior transparência nos processos de decisão, até porque o risco não é igual para todos.

A expectativa, na manhã desta segunda-feira, é que Ulrich Beck fale sobre a Europa. O professor da Universidade de Munique e na London School of Economics é um dos grandes críticos da Alemanha, que lhe parece estar apostada numa estratégia de hesitação a que chama “Merkiavel”. No seu entender, impõe-se um contrato social novo, gerador de mais democracia.

A conferência de Ulrich Beck é o ponto alto de um programa que inclui dezenas de comunicações, uma mão cheia de lançamentos de livros e a apresentação da nova página electrónica do Observatório das Desigualdades, uma estrutura independente criada no seio do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia do Instituto Universitário de Lisboa.

O evento costumava realizar-se de quatro em quatro anos. Em cada edição, acumulavam-se mais de 1200 comunicações. Os organizadores entenderam encurtar o intervalo, passando o congresso a bienal. Mesmo assim receberam mais de 800 comunicações.

Desta vez, o desafio proposto é obter “um olhar crítico e pluriperspectivado sobre os últimos quarenta anos” de democracia em Portugal. Ao que se pode ler no programa, intitulado “40 anos de democracia (s) – progressos, contradições e prospectivas”, partiu-se do princípio que a “singularidade portuguesa apresenta novas pontes de comunicação comparativa com outras realidades territoriais”.  E o facto é que, entre os inscritos, há um grande número de brasileiros e espanhóis.

Em destaque nas mesas redondas, adianta Teixeira Lopes, estará também “a subalternização que o poder político quer impor às ciências sociais”. “Vamos suscitar um debate com os ditos cientistas duros, como físicos, biólogos, que partilham connosco a ideia de que as políticas públicas estão cada vez mais apostadas em desvalorizar a ciência”, esclarece.

As perdas parecem-lhe evidentes: “Numa altura de crise, devia haver mobilização de conhecimento científico para que as políticas públicas fossem mais eficazes”. Na sua opinião, não só isso não acontece, como a intervenção de proximidade incorpora vez menos trabalhadores qualificados. 

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