Indisciplina nas aulas aumentou e falta formação para resolver problemas, diz estudo

Oito em cada dez professores inquiridos no ensino básico, num total de 1500 docentes, consideram que a indisciplina aumentou nos últimos cinco anos.

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Ainda há alunos sem aulas Nelson Garrido

Os professores do ensino básico sentem que a indisciplina na sala está a aumentar, existindo situações em que perdem metade da aula a resolver estes problemas, revela um estudo nacional, que alerta para a falta de formação nesta área.

Em apenas dois meses, cerca de 1500 docentes do 1.º ao 9.º ano responderam aos questionários do estudo sobre Indisciplina em sala de aula no ensino básico, que está a ser desenvolvido pela Universidade do Minho (UM). "O estudo ainda não terminou, até porque ainda se pode responder aos inquéritos, mas já é possível perceber tendências sobre a percepção que os professores têm sobre indisciplina", adiantou João Lopes, docente do Instituto de Educação e Psicologia da UM e responsável pelo trabalho.

Mais de oito em cada dez professores inquiridos (84%) consideram que a indisciplina aumentou nos últimos cinco anos. Apenas 2,5% entende que a situação dentro da sala de aula está melhor e 11% acha que a situação se mantem inalterada. Os problemas apontados "não são os mais graves", sublinha o investigador, dando como exemplos a utilização de aparelhos electrónicos durante a aula, falar com o colega do lado, sair do lugar e comer dentro da sala, ou ter uma atitude passiva e estar desatento.

No entanto, as atitudes perturbadoras obrigam muitas vezes a interromper a aula: um em cada quatro docentes (23%) perde 10% do tempo com problemas de indisciplina; outros 314 professores disseram gastar entre 20 a 30% da aula e 6% fica com menos de metade do tempo para dar matéria. Sete professores admitiram mesmo que perdem entre 80 a 90% com o mau comportamento dos seus alunos.

"Cerca de 12% dos professores perdem mais de 40% do tempo com este problema", disse o especialista, alertando para o facto de 60% dos professores não terem tido, até hoje, qualquer tipo de formação específica para lidar com este problema. João Lopes sublinha que existem muitos docentes que dão aulas há décadas e nunca receberam qualquer formação e, depois, existem "casos de professores que tiveram uma formação apenas cinco horas".

Para os inquiridos, a culpa da indisciplina dentro da sala de aula é, essencialmente, dos pais (39%), das políticas educativas governamentais (37%) e dos alunos (34%). Com menos responsabilidade na indisciplina surgem os próprios professores. No entanto, ressalva João Lopes, "os professores não se desresponsabilizam completamente" e 3% considerou mesmo que estes são os principais responsáveis pela situação dentro da sala.

Além da recolha de dados demográficos e sobre os problemas mais registados na sala de aula, o estudo tem também questionários para aferir a percepção que o professor tem sobre a sua capacidade de lidar com os problemas, assim como a capacidade dos seus colegas e da própria escola.

O estudo questionou ainda os docentes sobre a frequência com que reportam os problemas a terceiros e as consequências das situações reportadas. "Nós sabemos que os casos reportados são muito menos do que os que ocorrem na sala de aula e os punidos ainda são menos", sublinhou o investigador. João Lopes diz que o estudo deverá em breve ser alargado ao ensino secundário e até ao ensino superior, onde acredita que se registem também cada vez mais casos de indisciplina.

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