O caderno de encargos de Valls

O grande combate do Governo de Manuel Valls não será em França, mas em Bruxelas.

O Presidente François Hollande prometeu um “governo de combate” e ontem apresentou os 16 “combatentes”, que serão liderados por Manuel Valls, o qual, já se sabia, vai ocupar a cadeira de Jean Marc-Ayrault, que pagou a factura política pelos resultados desastrosos dos socialistas nas municipais francesas. A escolha de Valls, que chega ao Governo com o epíteto de “socialista de direita” ou o “sarkozysta do PS”, está a provocar uma grande inquietação na ala mais esquerda do partido. Como tal, e para ir ao encontro das várias correntes internas, Hollande e Valls foram buscar Ségolène Royal para o Ambiente para tentar restabelecer pontes também com ecologistas, cujos ministros recusaram integrar este novo elenco governativo.

E neste jogo do ‘ganhar a direita sem perder a esquerda’ e do tentar agradar a todos, o Ministério da Economia e Finanças foi partido ao meio. Com a pasta da Economia ficou Arnaud Montebourg, que é conhecido pelas suas posições contra a austeridade, um trunfo para consumo interno.

Para “mostrar” aos mercados, a escolha recaiu em Michel Sapin, conhecido nos corredores de Bruxelas, e que fica com a pasta das Finanças. Sapin terá a espinhosa tarefa de convencer os alemães e os finlandeses da bondade da proposta de François Hollande, que pediu novamente a Bruxelas a flexibilização das metas do défice. É a terceira vez que o faz em 22 meses. A questão é que os argumentos de Hollande esbarram num défice de 4,3% e num rácio da dívida pública já perto dos 95%. Para ganhar este combate, Hollande, mais do que aliados internos, dentro ou fora do partido, vai precisar de um aliado externo de peso. E o aliado que o faria bater o pé à Alemanha seria o italiano Matteo Renzi, cuja economia padece dos mesmos problemas que a francesa, e que já estabeleceu o crescimento e o emprego como prioridades.
 

  



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