"Temos mercado e competência para responder, falta-nos a reputação"

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Miguel Manso

Promoção é o que é preciso para colocar Portugal no mapa dos países de turismo de saúde, defende Joaquim Cunha, director-executivo do Health Cluster Portugal.

O estudo veio reforçar as vossas convicções de que Portugal tem tudo para ser um destino de turismo de saúde?
As principais conclusões são as de que há procura, temos mercado, temos competência para responder a esse mercado, mas falta-nos sobretudo a reputação. Temos um défice reputacional que acho que está associado à imagem menos positiva dos países do Sul da Europa.

Mas destaca-se o exemplo de vários países que apostaram nesta área e a Turquia, que já conseguiu resultados, é um deles.
Sim, mas a Turquia investiu fortemente. Eles têm um secretário de Estado que só trata do turismo de saúde. A Turkish Airlines faz um desconto aos acompanhantes. O Ministério da Economia paga 50% de todos os investimentos que as entidades de saúde fazem em termos de promoção externa. Mesmo assim, a Turquia tem tido um sucesso assinalável só numa determinada zona.

Acredita mesmo que podemos chegar a receitas da ordem dos  400 milhões de euros por ano?
Em termos de turismo médico são cem milhões. Se incluirmos o turismo de bem-estar chegamos 400 milhões de euros. Não é para já, é um trabalho de anos, diria que é um trabalho para cinco anos. Temos uma posição muito cautelosa.

Portugal vai concorrer com países que há já vários anos se posicionaram neste sector....
Por isso é que estamos a falar em  quotas de mercado modestas. Temos que encontrar aqui o nosso caminho.

E esse caminho passa pelos sete países europeus apontados no estudo?
Sim. A Alemanha, o Reino Unido e a França em conjunto representam já quase 90% do mercado.

Na cirurgia das cataratas, por exemplo, os nossos preços muito elevados, são mais do dobro dos praticados na Alemanha.
Estas coisas precisam depois de uma leitura mais fina. Estes são exemplos, uma forma que se encontrou para dimensionar o mercado. Agora, no global, Portugal não é propriamente low cost.

Mas essa  não é uma das principais razões que levam as pessoas a fazer turismo de saúde?
Onde acho que podemos ser competitivos é nos pacotes que incluem a parte hoteleira.

Por que são os preços dos procedimentos médicos tão elevados em Portugal?
É um tema muito polémico. Os especialistas dizem que os honorários médicos aparentemente são muito elevados em Portugal.

Defende-se no estudo que o sector privado vai ser o grande motor desta estratégia, apesar de haver já tentativas de captação de doentes estrangeiros em hospitais do Serviço Nacional de Saúde.
Os hospitais públicos vão apostar em certas franjas, em certos nichos. Um hospital público não vai, desde logo, poder prestar cuidados em áreas em que tem listas de espera. É consensual que o sector privado é que vai ser o motor. Mas é importante que possamos ter uma abordagem nacional.

Em relação a países fora da Europa não se avançou muito neste estudo.
Temos uma dificuldade terrível em obter valores. É pacífico que Angola é um mercado muito interessante. Moçambique também começa a ser. Entende-se igualmente que o  Norte de África pode ter algum interesse.

O que é que é preciso fazer agora para pôr Portugal no mapa dos países de turismo de saúde?
Não vamos precisar de construir hospitais. Os investimentos devem ser feitos em promoção, promoção, promoção. Vai ser necessário fazer uma promoção conjunta coordenada, as agências governamentais serão o chapéu.. A AICEP, que vende o país num conjunto de frentes, também passa a vender nesta. O Turismo de Portugal, além da oferta normal, inclui mais esta. A nossa rede diplomática também pode ajudar. O que é preciso é colocar esta temática na agenda nacional.

Não vai ser preciso nomear um membro do Governo que fique responsável por esta pasta, como fez a Turquia?
Não, mas acho que devíamos ter uma espécie de unidade de missão que junte toda a gente, tenha uma liderança, um plano.

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