Arqueólogos britânicos desvendam mistério com 660 anos sobre a Peste Negra

Testes de ADN revelam que esqueletos encontrados durante as obras de alargamento do metro de Londres pertenciam a vítimas da Peste Negra, epidemia que assolou Londres nos séculos XIV e XV.

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A Peste Negra chegou a Inglaterra em 1348 DR

Os esqueletos descobertos durante as obras de alargamento do metro de Londres (o projecto Crossrail) pertencem a vítimas da epidemia de Peste Negra que assolou a cidade nos séculos XIV e XV. O anúncio foi feito neste domingo por uma equipa de arqueólogos britânicos, que realizou testes de ADN a alguns dos esqueletos encontrados no ano passado, confirmando que se pode estar perante um cemitério onde foram enterradas mais de 50 mil vítimas da peste.

Os arqueólogos já suspeitavam que os esqueletos de 13 homens, três mulheres e duas crianças, encontrados na sequência das obras de expansão do metro da capital britânica, podiam pertencer a vítimas da epidemia que matou um terço da população de Londres.

Alguns registos da época já sugeriam que mais de 50 mil pessoas teriam sido enterradas num cemitério do distrito de Farringdon, mas o local exacto permanecia um mistério. Agora, os testes realizados aos dentes de alguns dos esqueletos encontrado nesse local revelam vestígios da bactéria yersinia, responsável pela epidemia de Peste Negra, confirmando a teoria.

Um século, três surtos
A Peste Negra chegou a Inglaterra em 1348 e a primeira camada de esqueletos encontrados terão sido enterrados entre 1348 e 1349. A segunda camada coincide com o novo surto registado em 1361 e a última camada de esqueletos descobertos terá pertencido a corpos enterrados durante um terceiro surto que eclodiu entre 1433 e 1435.

"As análises revelam uma quantidade extraordinária de informação que nos permite resolver um mistério com 660 anos”, disse à Reuters Jay Carver, o arqueólogo que dirige a investigação. 

“Esta descoberta é um passo extremamente importante no sentido de compreender e documentar a pandemia mais devastadora da Europa”, acrescentou.

As análises revelaram ainda pormenores sobre a forma como aquelas pessoas viveram. Alguns tinham problemas na coluna, sugerindo que realizavam trabalho manual pesado; outros apresentavam vestígios de ferimentos resultantes de eventuais conflitos violentos e muitos sofriam de subnutrição.

Os arqueólogos revelaram ainda que 40% cresceram fora de Londres, possivelmente no norte da Escócia, mostrando que no século XIV Londres atraía pessoas de todo o país, tal como acontece actualmente com a capital britânica.

Jay Carver destacou ainda o contributo da descoberta para a comunidade científica e para a investigação moderna das doenças. “Historiadores, arqueólogos, microbiólogos e físicos estão a trabalhar em conjunto para traçar as origens e o desenvolvimento de uma das piores doenças endémicas do mundo e ajudar os investigadores de hoje a compreender melhor a evolução dessas bactérias”, destacou.

Os testes de ADN permitem também concluir, argumentam os cientistas que a doença se propagou sobretudo através da tosse e dos espirros e não apenas por causa dos ratos, como se pensa. Uma equipa do organismo britânico que estuda doenças infecciosas (Public Health England), liderada por Tim Brooks, argumenta que a infecção propagou-se de forma tão rápida que deve ter afectado os pulmões das vítimas malnutridas, dando a entender que se tratou de focos de peste pneumónica em vez de peste bubónica.

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