Polícias e militares ocupam Maré, mar de favelas na porta de entrada do Rio

Operação, a pouco mais de dois meses do Mundial, aconteceu sem incidentes. Governador fala numa "conquista muito importante" para a cidade.

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Habitantes de uma das favelas do complexo passam junto aos blindados da Marinha Ricardo Moraes/Reuters

Polícias militares, apoiados por blindados da Marinha, entraram na manhã deste domingo no Complexo da Maré, um dos maiores e mais violentos emaranhados de favelas do Rio de Janeiro, situado junto ao aeroporto da cidade. A ocupação, a pouco mais de dois meses do início do Mundial de Futebol, estava anunciada há vários dias e decorreu sem incidentes.

A operação começou pouco depois das 5h da manhã, altura em que 21 blindados entraram no complexo pela Avenida Brasil, a grande via de entrada na cidade, seguidos por uma coluna de veículos do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da Polícia Militar, relata a edição do jornal O Globo. Ao todo, mais de mil polícias e 250 fuzileiros participaram na operação que, segundo a Secretaria de Segurança estadual, precisou de apenas 15 minutos para ocupar os pontos pré-definidos.

“As forças de segurança continuam nas comunidades em operações de buscas de criminosos e apreensões de armas, drogas e objectos roubados”, adianta a Secretaria, que pediu a colaboração da população, nomeadamente na denúncia de criminosos ou de eventuais esconderijos de armas e drogas. Há notícia de várias detenções que se seguem à prisão de mais de meia centena de suspeitos nos últimos dias anteriores. Mas tal como em momentos anteriores, os traficantes de droga anteciparam-se à operação, que se anunciava há várias semanas. “Os bandidos foram embora há oito dias”, contou ao Globo um morador, que não se quis identificar.

A “pacificação” – termo cunhado pelas autoridades brasileiras para a ocupação das favelas até aqui dominadas pelo tráfico de droga – da Maré era prioritária para as autoridades do Rio, numa altura em que a cidade se prepara para receber milhares de visitantes durante o Mundial. Nas 16 favelas que compõem o complexo vivem mais de 140 mil pessoas e a zona era considerada uma das mais violentas da zona norte do Rio, encostada àquela que é a principal porta de entrada da cidade. Até agora, havia favelas dominadas pelo Comando Vermelho, uma das maiores facções do Exército sombra que é o tráfico de droga na cidade, outras em mãos do Terceiro Comando e outras ainda identificadas como estando em poder dos Amigos dos Amigos.

“O complexo da Maré é uma cidade. O estado do Rio tem 92 cidades, talvez 80% delas não tenham 120 mil habitantes. É uma cidade com regras próprias, dividida por facções, comandos, milícia e onde o estado não está presente”, explicou, na véspera da ocupação, o governador Sérgio Cabral. Para o responsável, a saída dos traficantes e a instalação naquela área de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) “será uma conquista muito importante para a cidade”.

Desde 2008, 38 UPP foram instaladas em 174 favelas espalhadas pela cidade, colocando polícias em zonas onde durante décadas só o tráfico mandou. Mas nos últimos meses, várias unidades foram atacadas e quatro agentes das UPP foram mortalmente baleados.

“Vamos esperar para ver. Noutras favelas, a situação está ruim, mas espero que fique tudo bem”, disse ao Globo uma moradora da Maré que assistia, na manhã deste domingo, à chegada dos blindados e dos homens do Bope. Mas há vendedores que se queixam da quebra no movimento desde que a operação foi anunciada e moradores que temem pelo fim das festas que todos os fins-de-semana arrastam multidões vindas de favelas pacificadas – um baile funk até agora organizado pelos traficantes e um forró que todos os sábados junta nordestinos a viver na cidade. “Minha preocupação é essa, mais nada. Para nós é muito importante. É o meu ganha-pão. Trabalho aqui há mais de 25 anos, e se não houver mais forró com a ocupação, isso vai-me afectar”, lamentava-se o dono de quiosque no Parque União, uma das 16 favelas do complexo.
 

   





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