Depressão, problemas familiares e questões amorosas levam mulheres a atear incêndios

"Se tiverem em casa um isqueiro BIC cor-de-laranja deitem-no fora, porque é a arma do crime mais usual", aconselha especialista da Polícia Judiciária.

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Mais de 200 bombeiros foram mobilizados para combater o incêndio em Olho Marinho André Amaral

As mulheres que ateiam fogos fazem-no porque se encontram deprimidas ou devido a problemas familiares e a questões amorosas. Quem o diz é a psicóloga e investigadora da Escola da Policia Judiciária Cristina Soeiro, que participou esta quinta-feira, no Porto, do II Congresso Internacional Crime, Justiça e Sociedade, na Universidade Fernando Pessoa.

A especialista, que estuda este tipo de crime há vários anos, apresentou uma comunicação sobre as diferenças de género no comportamento dos incendiários. Na amostra que analisou, as incendiárias tinham como motivação depressões, problemas familiares e questões amorosas com companheiro ou ex-companheiros, ou então com pessoas que viviam na sua proximidade. “Tinham quase todas um quadro depressivo identificado", explicou Cristina Soeiro, assinalando que a depressão, "muitas vezes medicada", e a psicose é o mais comum nas mulheres. Ao contrário dos que acontece com os incendiários, o consumo de álcool pesa pouco nestes comportamentos.

"É completamente diferente dos homens", onde se registam "mais abusos de substâncias e défice cognitivo", observou, acrescentando que "alguns estudos mostram que um terço das incendiárias já possuía pelo menos uma condenação, por comportamentos agressivos".

Cristina Soeiro disse ainda que só oito por cento dos dados da Policia Judiciária relativos a incendiários florestais corresponde a pessoas do sexo feminino, sublinhado que os homens são, de longe, os grandes responsáveis por esse tipo de crime. Foram precisos "muitos anos" para a Judiciária ter uma amostra de mulheres incendiárias. A maior parte são da zona centro, “o que faz sentido porque é e zona onde existe mais floresta", refere a especialista.

Mulheres e homens incendiários assemelham-se na relação próxima com os terrenos a que atearam fogo, bem como nas " limitações ao nível da inteligência, nos baixos níveis de escolaridade e no baixo estatuto sócio-cultural". Os incendiários são mais novos, tendo entre 20 e 35 anos, ao passo que as mulheres andam entre os 46 e os 55 anos. No que diz respeito aos sítios onde os fogos ocorreram, "as mulheres também cometem o crime perto do local de residência" e, mais raramente, do local de trabalho.

"Digo-vos uma coisa: se tiverem em casa um isqueiro BIC cor-de-laranja por favor deitem-no fora, porque é a arma do crime mais usual", aconselhou Cristina Soeiro, adiantando que as caixas de fósforos Quinas também são muito utilizadas. É raro o recurso a engenhos incendiários.

A maior parte das incendiárias não conhece os proprietários dos terrenos onde atearam incêndios. Algumas delas agem por "vingança daquela pessoa com quem tiveram uma relação amorosa”.

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