Alguma renovação e pouca independência na corrida europeia

PSD e PS vão recandidatar militantes que já estiveram em Bruxelas. Independentes concentrados nas quotas dos Açores e Madeira.

Foto
Assis critica duramente o Bloco de Esquerda Adriano Miranda

Mais de metade dos actuais eurodeputados saem, mas em alguns casos substituídos por militantes partidários que já estiveram em Bruxelas. O número de independentes também não é elevado nas listas dos cinco principais partidos.

O esforço de renovação no PS resultou na manutenção de apenas dois dos sete actuais eurodeputados. Que poderia ser maior – entre os lugares potencialmente elegíveis - se os socialistas não tivessem repescado dois ex-parlamentares de Bruxelas. Tanto o cabeça de lista, Francisco Assis, como o nono lugar, Manuel dos Santos, já foram eurodeputados no passado.

O principal partido da oposição é o que apresenta mais independentes em condições de serem eleitos. A actual eurodeputada Elisa Ferreira é a primeira. Os restantes dois são preenchidos pela quota regional: o açoriano Ricardo Serrão Santos e a madeirense Liliana Rodrigues.

No PSD, dos actuais oito eurodeputados há cinco que abandonam o posto. Se, à partida, tal poderia ser visto como um sinal de renovação, uma leitura mais cuidada desmente essa interpretação. Antes de mais porque um dos lugares eleigíveis vai ser ocupado pelo centrista e eurodeputado Nuno Melo. Depois porque, um dos novos nomes não é assim tão novo. José Mendes Bota já foi eurodeputado pelo PSD. Ainda assim, há quatro caras novas nos nove primeiros lugares da lista conjunta, sendo Sofia Ribeiro a única independente, indicada pelo PSD Açores. Ana Clara Birrento – que retirou o lugar a Diogo Feio ao ficar em oitavo – é militante do CDS.

Actualmente, o BE tem duas eurodeputadas: Marisa Matias e Alda de Sousa, que ocupou o lugar de Miguel Portas, que morreu em 2012. No Bloco, tanto a questão da renovação como da abertura aos independentes se resolveram com os mesmos dois nomes: João Lavinha e Cláudio Torres nunca foram candidatos e não são militantes do BE. E a atribuição do segundo e terceiro lugar a estes dois independentes não é alheia à necessidade de calar a crítica interna, mas também dar um sinal exterior da convergência que o BE não foi capaz de fazer com outros movimentos.

Já no caso do PCP, nesta eleição não há nem renovação nem independentes à vista. Os actuais dois eurodeputados – João Ferreira e Inês Zuber – encabeçam a lista. A renovação foi feita quando decorria o actual mandato, quando Zuber ocupou o lugar da então cabeça de lista Ilda Figueiredo. Todos são militantes do PCP, incluindo o terceiro da lista, Miguel Viegas.

As diferentes tendências internas oferecem outra grelha de leitura na lista socialista. Apesar de Francisco Assis estar agora muito próximo da actual direcção, não deixa de ser o candidato derrotado por Seguro na luta pela liderança. A sua escolha também obedece assim ao acomodar das diferentes sensibilidades, de que o melhor exemplo é a indicação do ex-braço direito de José Sócrates, Pedro Silva Pereira. Da anterior lista de eurodeputados escolhidos por Sócrates ficam Elisa Ferreira e Ana Gomes.

Mas a linha da actual direcção está também representada pelos nomes de Carlos Zorrinho – que foi o primeiro líder parlamentar de Seguro –, por Manuel dos Santos e pela ex-autarca Maria Amélia Antunes, que faz parte do actual secretariado nacional.   

No PSD, a lógica inerente às escolhas foi outra. Só Paulo Rangel surge como o único que tem no seu passado um desafio à actual direcção, já que foi candidato derrotado à liderança por Passos Coelho. Já a inclusão do ex-autarca viseense do cavaquistão Fernando Ruas e dos dois nomes das regiões autónomas – Sofia Ribeiro e Cláudia Aguiar – tem como objectivo a mobilização do partido para o combate eleitoral. Não só para as europeias como para os embates seguintes.

Do lado do CDS, o facto de praticamente não haver oposição ao líder Paulo Portas facilitou a difícil gestão da fusão na lista conjunta com o PSD. A competição foi entre dois putativos sucessores do líder, e nesta batalha venceu Nuno Melo, que é visto, tanto entre os centristas como no seio social-democrata, como um trunfo em campanha. E a substituição do elogiado Diogo Feio pela desconhecida Ana Clara Birrento pouco foi contestada internamente no CDS.

Na lista do BE, a militância está apenas representada, nos potencialmente lugares elegíveis, pela cabeça de lista, Marisa Matias, que vem da tendência Política XXI, cujo principal rosto era Miguel Portas. Só em quinto lugar aparece o nome de um dirigente de primeira linha do partido, João Teixeira Lopes.

Liberalismo versus despesismo
Com o anúncio da lista do PS, Francisco Assis centrou o discurso no ataque à “linha conservadora liberal na Europa, infelizmente, desde há três anos que também prevalece essa linha de orientação política em Portugal”.

“Linha” essa que não perdeu tempo a ensaiar o discurso com que tenciona combater os socialistas. Reagindo aos nomes da lista socialista, Paulo Rangel acusou o principal partido da oposição de se reconciliar com o passado de  "despesismo e tradição de gastador que trouxeram o país à bancarrota ".

O cabeça de lista da coligação PSD/CDS às europeias considera que a lista socialista "reconcilia o PS" com o "despesismo e tradição de gastador", tendo rostos "importantíssimos" das políticas de Sócrates e Guterres que "trouxeram o país à bancarrota".

Ataque que obrigou Assis a aconselhar o social-democrata a não cair “nesse tipo de argumentação e debate": "Isso é uma versão absolutamente demagógica de tudo quanto se passou em Portugal nos últimos anos, concorre para simplificar de uma maneira até populista a explicação de tudo o que se passou."
 

   

Sugerir correcção
Comentar