Fuga de capitais da Rússia já ascende a 3% do PIB

Investidores internacionais e grandes depositantes russos estão a transferir o dinheiro do país. Vice-ministro da economia reconhece que o montante retirado até agora já ultrapassa o total de 2013.

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Os chefes de Estado do G7 já avisaram que as sanções poderão agravar-se se a Rússia continuar a escalada na Ucrânia AFP/ALEXEI NIKOLSKY

Antes da ameaça de sanções dos Estados Unidos e da União Europeia, em resposta à anexação da Crimeia pela Rússia, a actividade dos bancos russos já se encontrava comprometida por um movimento acelerado de fuga de capitais dos investidores internacionais e grandes depositantes russos, que nas estimativas dos analistas financeiros terão transferido para fora do país um montante equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional.

De acordo com o director-geral do Sberbank, o maior banco da Rússia, só nos primeiros dois meses deste ano foram transferidos cerca de 25 mil milhões de euros do país. Nos cálculos do vice-ministro da Economia, Andrei Klepatch, a fuga de capitais da Rússia, em 2014, já ultrapassou o total de 45 mil milhões do ano passado – e não será surpresa para ninguém se esse montante for duplicado. “Naturalmente, o arrefecimento das relações com o Ocidente é um factor negativo importante em termos da crescimento económico e da fuga de capitais”, declarou o governante à agência Prime Tass.

A “desafectação maciça” de recursos da economia russa, é um sinal da “falta de confiança dos empresários moscovitas nas instituições do seu país”, observou Sébastien Barbé, economista do Crédit Agricole CIB, ao jornal Le Monde. Por outro lado, a “perspectiva de um alargamento das sanções aplicadas pelos países ocidentais a outros sectores da economia, bem como a possibilidade de embargos comerciais, está a inquietar os investidores”, frisava a última nota de mercado da britânica Capital Economics.

Reunidos em Haia, na Holanda, os chefes de Estado do G7 – EUA, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália e Japão – chegaram a acordo para “carregar” nas sanções se a Rússia continuar a escalada na Ucrânia. Fonte da Administração Obama disse esta terça-feira que as novas medidas incidiriam sobre as empresas de energia, o sector financeiro e os fabricantes de armamento: “Reconhecemos os riscos associados a estas acções, mas é a Rússia que tem mais a perder com o isolamento da economia global”, admitiu.

Por enquanto, a economia russa ainda não exibiu sinais de quebra em consequência directa do congelamento dos bens financeiros de cerca de 30 indivíduos e instituições russas. Segundo a consultora Macro-Advisory, sedeada em Moscovo, o “principal perigo do prolongamento do conflito na Ucrânia para o futuro económico da Rússia tem a ver com a redução radical do fluxo de investimento” no país, que fará disparar o custo do financiamento da economia nos mercados internacionais. Antecipando o inevitável, as agências de notação financeira reajustaram o outlook da Rússia de “estável” para “negativo”, e os principais bancos reviram em baixa as suas projecções de crescimento

O que não quer dizer que as sanções ocidentais não tenham tido um impacto imediato: assim que a Casa Branca divulgou a lista dos nomes punidos com sanções, todas as ligações com empresas norte-americanas foram interrompidas. Por exemplo, todos os clientes dos bancos incluídos na lista que detinham cartões de crédito Visa ou Mastercard, deixaram de poder utilizá-los a partir desse momento. No dia seguinte, a empresa de gás Novatek perdeu 12% do seu valor de mercado quando os investidores internacionais cortaram a sua associação ao seu principal accionista, Gennadi Timchenko, incluído na lista.

No entanto, como argumenta Oliver Bullough, autor do livro The Last Man in Russia, num texto para a revista do Politico, as sanções internacionais aplicadas contra os bancos russos até podem acabar por beneficiar o Presidente Vladimir Putin, que assim tem uma oportunidade para repatriar parte das fortunas dispersas no estrangeiro, e aumentar em milhões de rublos a liquidez da economia do país. Segundo o director executivo da Tax Justice Network, John Christensen, o retorno desse dinheiro à Rússia aumentaria o investimento interno e as receitas fiscais do país.

Ministro da Defesa ucraniano demite-se por causa da Crimeia
A anexação da Crimeia pela Rússia fez a primeira baixa no governo interino de Kiev. O ministro da Defesa, o general Igor Teniukh, apresentou a sua demissão e foi substituído ontem por Mikhaïlo Koval, até agora responsável pela guarda fronteiriça da Ucrânia. Teniukh foi duramente criticado pela forma tardia como geriu a retirada das tropas ucranianas da Crimeia, após a anexação por Moscovo.

Na sua declaração no parlamento de Kiev, Teniukh fez um novo balanço das deserções ocorridas nas últimas semanas: apenas 4300 dos 18.800 soldados que estavam na Crimeia continuam fiéis ao exército ucraniano, os restantes aceitaram a oferta da Rússia para integrarem as suas forças armadas

Depois de votada a nomeação de Mikhaïlo Koval , o presidente do parlamento que é também Presidente interino do país, Olexandre Turtchinov, resumiu as dificuldades do novo poder saído da Revolução de Maidan: “Precisamos que as pessoas que trabalham e tomam decisões sejam especialistas, sejam pessoas capazes de tomar as decisões certas e de dar resposta em condições extremas, em situações de perigo e de confrontação militar.”

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