Abriu-se a porta para uma "Rua de José Saramago" no Porto

Câmara liderada por Rui Moreira aceita fazer esta homenagem ao escritor, mas só quando houver uma nova artéria com importância para ser associada ao Nobel português.

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josé Saramago, no Porto, em 2003, na apresentação do seu "Ensaio sobre a Lucidez" Paulo Pimenta

O debate não foi tão quente quanto o de Julho de 2010, quando o comunista Rui Sá, munido de um voto de pesar, propôs que a Câmara do Porto desse o nome de José Saramago, recém-falecido, a uma rua da cidade. A maioria é outra, nada presa ao critério, então utilizado como justificação por Rui Rio, de que a toponímia deve privilegiar nomes associados à cidade, e a proposta, agora retomada pelo actual vereador comunista, Pedro Carvalho, acabou aprovada.

A recomendação dirigida à comissão de toponímia da cidade mereceu até o voto favorável dos novos eleitos do PSD e da agora independente Guilhermina Rego que, há quase quatro anos, acompanhara o líder Rui Rio no chumbo da iniciativa do PCP. Só o vereador Sampaio Pimentel, que também estava na coligação PSD/CDS que então governava o Porto, manteve a sua posição. Contra, claro.

Alvo de críticas contundentes pela forma frontal como justificara o seu voto, Pimentel tentou acabar com a discussão, afirmando na altura, no Facebook, que não queria "gastar cera com tão ruim defunto”. Mas ontem lá voltou a intervir e a dizer que nunca aprovaria uma "Rua de José Saramago" no Porto, porque o escritor tinha “uma arrogância intelectual primária, teve comportamentos estalinistas e promoveu perseguições e despedimentos de jornalistas [numa referência a situações ocorridas durante o PREC, quando o também comunista dirigia o DN]”.

O militante do CDS justificou-se citando até trechos de obras de Sophia e Florbela Espanca. E foi citando outro escritor, Saint-Exupery, que o vereador do PSD Amorim Pereira contrapôs que “um vulto que se eleva, eleva o mundo”, e que a dimensão literária alcançada pelo único Nobel português pediria que se desvalorizassem facetas menos positivas da sua vida, e se aprovasse a proposta.

Em todo o caso, não se sabe quando terá o Porto uma rua homenageando o criador do Ensaio sobre a Cegueira, porque Rui Moreira considera que não se pode fazer tal homenagem com um beco ou uma ruazita qualquer, e o autarca não está ver quando se abrirá, numa cidade tão consolidada, uma artéria que valha tal nome. Sendo certo, assinalou, que Sophia, a poetisa maior do Porto, terá a primazia, e que não se vai alterar nomes de ruas ou praças, para os ter, a ambos, na toponímia.

Rui Moreira lembrou, a propósito, o que se passou com a praça Velasquez, que é há anos a Praça Francisco Sá Carneiro mas continua a ser, para os portuenses, Velasquez. Que é, por acaso, nome de um famoso pintor espanhol.

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