General Matos Coelho nega que 16 de Março tenha sido feito por "spinolistas"

O general Adelino Matos Coelho negou neste sábado que o 16 de Março tenha sido feito por militares afectos ao general Spínola e que a coluna marchou para Lisboa convicta de que participava numa operação do "Movimento dos Capitães".

"O regimento das Caldas [da Rainha] era uma das unidades que menos ligação tinha ao general Spínola", afirmou Adelino Matos Coelho, para desfazer "um dos vários equívocos" ligados ao 16 de Março de 1974, data em que uma coluna militar saiu do quartel rumo a Lisboa com o objectivo de ocupar o aeroporto.

O à data tenente no Regimento de Infantaria 5 (RI5), de onde partiu a coluna de cerca de 200 militares, sublinhou neste sábado que a maioria dos militares "estava convicta de que participava numa operação do 'Movimento dos Capitães', com os mesmos objectivos dos que acabaram por sair das suas unidades em 25 de Abril".

Orador numa sessão evocativa do golpe que se discute que foi um balão de ensaio para a revolução de 25 de Abril de 1974 ou se, pelo contrário, o poderia ter inviabilizado, o general assegurou que a única diferença entre ambos é que o primeiro "foi um movimento derrotado" e o segundo, "um movimento vitorioso".

Uma diferença que fez com só na última década os militares tenham começado a revelar os factos que estiveram na origem da revolta e a cronologia dos acontecimentos que levaram a coluna das Caldas da Rainha a regressar ao quartel, quando, quase à entrada de Lisboa, descobriu estar sozinha e que as unidades de Lamego, Santarém, Mafra e Vendas Novas (que se pensava terem aderido ao golpe) não tinham comparecido.

Segundo o general, na base revolta, esteve, para além da situação política do país há 48 anos sob uma ditadura, o descontentamento de dois grupos de oficiais, uns oriundos de cadetes e outros de milicianos, com diferentes regalias na carreira, sendo a maioria dos primeiros ligados ao "movimento dos Capitães" e os segundos afectos ao general Spínola, então vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.

Quatro décadas passadas Adelino Matos Coelho diz que "a operação foi desencadeada por quatro oficiais, dois dos quais da Comissão Coordenadora do Movimento", mas dificuldades de comunicação com outras unidades acabaram por inviabilizar o golpe que pretendia derrubar o Governo e repor no poder os generais Costa Gomes e Spínola (chefe e vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas) que no dia anterior tinham sido afastados dos cargos.

"Apesar do insucesso do 16 de Março e do perigo que ele poderia ter representado para o 'movimento' este acontecimento acabou por ser importante porque pôs em evidência a fragilidade do regime e permitiu ver como o Governo organizou a reacção a um movimento militar, tendo dado inspiração para a elaboração do plano do novo plano de operações", que resultou no 25 de Abril.

Uma importância sublinhada neste sábado nas Caldas da Rainha com a realização de três cerimónias evocativas da data, uma das quais organizada pelo PSD e que contou com a presença do líder do partido, Pedro Passos Coelho.

Mas com a grande maioria dos participantes ainda viva, são muitas as "estórias" em torno do golpe e, como referiu o presidente da câmara das Caldas da Rainha, Tinta Ferreira, no encerramento das comemorações, está ainda para vir o dia em que "haverá uma versão oficial" sobre o dia que ligou o nome das Caldas da Rainha à conquista da democracia em Portugal.

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