Percentagem de trabalhadores com sinais de esgotamento quase duplicou em seis anos

Associação que fez estudo defende que este é "um problema de saúde pública" e que é urgente avançar com medidas para alterar a situação

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Estudo foi apresentado esta quarta-feira na comissão de Saúde, no Parlamento. Foto: Nuno Ferreira Santos

As situações de esgotamento e de stress nas empresas portuguesas estão a crescer de forma preocupante, revela um estudo esta quarta-feira apresentado na Comissão Parlamentar de Saúde. Associação que fez avaliação defende que este é "um problema de saúde pública" e que é urgente avançar com medidas para alterar a situação.

A percentagem de trabalhadores que se encontra num estado de esgotamento ( “burnout”) aumentou substancialmente entre 2008 e 2013. No ano passado, 15% dos trabalhadores inquiridos no âmbito de um estudo da Associação Portuguesa de Psicologia da Saúde Ocupacional (APPSO)  evidenciavam sinais de esgotamento, quando em 2008 a percentagem que estava nessa situação era de 9%. “O máximo aceitável seria 9 a 10%”, sublinha João Paulo Pereira, presidente da associação, para quem é “assustadora” a degradação dos indicadores de bem-estar no mundo laboral que ficou patente nesta avaliação que abrangeu mais de 37 mil trabalhadores dos sectores público e privado.

Também a percentagem de inquiridos que afirmavam estar a enfrentar situações stress  nas suas empresas e organizações quase duplicou neste período, passando de 36%, em 2008, para 62%, em 2013. “As disfuncionalidades emocionais estão a aumentar drasticamente”, lamenta João Paulo Pereira.

Apesar disto, depois de ter aumentado entre 2008 e 2011, o absentismo destes trabalhadores manteve-se aos mesmos níveis nos últimos dois anos. Explicação para este aparente paradoxo? “As pessoas estão a trabalhar num estado de saúde cada vez mais degradado, mas não faltam porque não podem abdicar de nenhuma forma de rendimento, nomeadamente do subsídio de refeição”, explica o presidente da APPSO.

Os  responsáveis da APPSO apresentaram esta quarta-feira o “Relatório de Avaliação de Perfil de Risco Psicossocial – A gestão de Pessoas e Organizações Saudáveis” na Comissão Parlamentar de Saúde. Quiseram fazê-lo porque acreditam que este é “um problema de saúde pública”.

De acordo com os resultados do estudo (que abrangeu 38 719 trabalhadores que responderam a um questionário através de uma plataforma online), os  funcionários públicos apresentaram os piores resultados em todas as variáveis analisadas, quando comparados com os trabalhadores do sector privado. 

Esta não é uma amostra representativa, porque não está estratificada, mas João Paulo Pereira acredita que pode funcionar como  “um retrato fiel” da realidade nacional, uma vez quase metade dos inquiridos foram submetidos "a intervenções e a uma avaliação presencial”.

Outro indicador do mal estar evidenciado pelos trabalhadores inquiridos fica patente na vontade de mudar de emprego no horizonte dos próximos cinco anos (o chamado “turnover” na gíria da saúde ocupacional). Se em 2008 cerca de um terço dos trabalhadores inquiridos manifestavam esta intenção, em 2013 eram já 78% os que pretendiam fazê-lo. “Isto funciona como um mecanismo de defesa. As pessoas querem fazer outra coisa, querem dar-se ao luxo de continuar a sonhar”, interpreta João Paulo Pereira. A degradação das condições de trabalho nos últimos anos reflectiu-se ainda noutro indicador: 83% dos inquiridos estava "em risco de exaustão" .

Para o presidente da APPSO, este mal estar no mundo do trabalho não deve ser encarado como “uma fatalidade nacional”. João Paulo Pereira pretende aliás que o tema não seja abandonado, que seja elaborado um barómetro anual da situação e que sejam definidas medidas para alterar estes resultados.  “É necessária uma mudança de paradigma, é preciso fazer um 25 de Abril nesta área”, reclama.

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