G7 e União Europeia exigem à Rússia que não anexe a Crimeia

Durão Barroso classifica referendo de "ilegítimo, ilegal" e inconstitucional.

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Os países do G7, a Comissão Europeia e o Conselho Europeu exigem à Rússia que não anexe a região ucraniana da Crimeia e rejeitam a realização do referendo, que classificam de "ilegítimo, ilegal e contrário à Constituição ucraniana e a todos os instrumentos do direito internacional".

Esta mensagem será enviada à Rússia através de um comunicado conjunto divulgado ao início da tarde desta quarta-feira, anunciou o presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, num debate sobre a situação na Ucrânia com os eurodeputados, em Estrasburgo. "Qualquer tentativa de legitimar o referendo é ilegal", vincou.

"O que aconteceu é uma violação inaceitável da soberania da Ucrânia", afirmou o presidente da Comissão, realçando que a União Europeia e os países do G7 (Alemanha, Canadá, França, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos) têm tentado dialogar diplomaticamente com a Rússia, mas não tem havido resultados palpáveis. "A situação está tensa e devemos ser cautelosos para não colocar em perigo mais vidas. Muitas já foram perdidas."

"Se não houver negociações com resultados a curto prazo, tomaremos mais medidas que poderão ter consequências muito graves", avisou Durão Barroso. "O nosso modelo é de regionalização aberta. Não estamos a pedir ou a sugerir aos parceiros orientais que cortem relações com a Rússia, mas esta tem de aceitar o direito destes países a decidirem o seu futuro e a relação que querem ter com a Rússia."

Boa parte dos eurodeputados que intervieram depois do presidente da Comissão foi mesmo directa: que se imponham sanções económicas pesadas imediatamente. Barroso prefere a "lógica da cooperação". "Não queremos novas guerras frias. A Ucrânia deverá ser um trunfo para um continente europeu cada vez mais unido."

"Temos uma posição muito clara e crítica das acções que até agora foram desenvolvidas [pela Rússia]", afirmou Durão Barroso à saída do debate. "Não podemos aceitar um referendo na Crimeia, que é um referendo ilegítimo, ilegal contrário à Constituição da Ucrânia e contrário a todos os instrumentos do direito internacional."

Barroso disse haver um "consenso entre os Estados-membros" e "posições inequívocas que demonstram firmeza e determinação" no repúdio à ideia de a Rússia anexar a região ucraniana da Crimeia. "Não obstante diferentes sensibilidades, existe uma vontade forte de dizer basta. Anexar território de outro país soberano é uma situação que não se pode aceitar. Isto é voltar, um século depois da I Guerra Mundial, ao cenário em que países pegavam em bocados de outros países", considerou Durão Barroso. "Isso não é aceitável. Foi contra tudo isso que fizemos o projecto da UE."

Divisões em Washington
A divisão no Parlamento Europeu sobre a natureza das sanções é também assunto do dia na Casa Branca, onde o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tem enfrentado a pressão de dois blocos: de um lado, os responsáveis pela economia e finanças, que defendem a aplicação de sanções apenas num quadro multilateral (coordenadas com a União Europeia, por exemplo), e não tão duras que levem a um "perigoso ciclo de retaliação"; e, do outro, os responsáveis políticos mais conhecedores da situação na Ucrânia, como o embaixador dos EUA em Kiev, Geoffrey Pyatt, e a responsável da Secretaria de Estado norte-americana pela região da Europa e da Eurásia, Victoria Nuland, que puxam por sanções mais duras, e o mais depressa possível.

A questão, segundo o The New York Times, é saber se Washington deve aplicar sanções (mais duras ou mais brandas) antes ou depois do referendo de domingo, em que os habitantes da Crimeia vão escolher se querem integrar a Federação Russa ou conquistar mais autonomia em relação à Ucrânia.

"Não há dúvida de que grupos económicos [norte-americanos] muito importantes não querem que tomemos medidas", disse ao The New York Times James B. Steinberg, vice-secretário de Estado na Administração Obama entre 2009 e 2011.

Apesar de as trocas entre os EUA e a Rússia não representarem um valor gigantesco na balança comercial (cerca de 40 mil milhões de dólares por ano, ou quase 30 mil milhões de euros), todos sabem que há muito mais em jogo, devido aos vários negócios que podem ser postos em causa, se Moscovo decidir retaliar – a construtora de automóveis Ford, por exemplo, tem duas fábricas na Rússia, cujos resultados não entram nas contas da balança comercial entre os dois países porque as peças são compradas à Europa.

Os políticos temem uma escalada imparável, que leve Moscovo a reclamar a soberania sobre mais áreas do actual território ucraniano, mas os empresários aconselham cautela. "Estamos a trabalhar de perto com os responsáveis políticos de ambos os lados para salvaguardar investimentos e postos de trabalho em todo o mundo", disse ao jornal norte-americano Jay Timmons, presidente da Associação Nacional da Indústria Transformadora.
 

A jornalista Maria Lopes viajou a convite do Parlamento Europeu.

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