Os 22 eurodeputados portugueses no Parlamento Europeu

As estrelas, as formiguinhas, os diligentes, os discretos, o muito discreto, os regionais, a polémica, os políticos e as novatas.

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Edifício do Parlamento Europeu REUTERS/Vincent Kessler

AS ESTRELAS

Elisa Ferreira, PS
É a deputada portuguesa mais influente de todo o PE. É a única especializada na toda poderosa comissão dos assuntos económicos e monetários e, em concreto, nos temas ligados à reforma das regras de gestão do euro. É a chefe de fila da bancada socialista nesta comissão. Foi a “relatora” do PE em vários textos legislativos cruciais – o que só se consegue quando já se atingiu um elevado grau de credibilidade – onde se introduziu formas de suavizar o colete de forças da austeridade. A investigação do PE à acção da troika nos países sob ajuda externa é muito o resultado do seu trabalho.

Ana Gomes, PS
É, com Elisa Ferreira, a deputada portuguesa com maior notoriedade no PE e é quem melhor utiliza o enorme potencial proporcionado pela instituição. Não há causa nas suas áreas de especialidade – relações externas (de que é a coordenadora dos socialistas), direitos humanos, segurança e defesa – que não agarre, e para a qual não dê tudo por tudo para dar visibilidade. Parece estar em todo o lado ao mesmo tempo: tanto vai a correr para os países, mesmo os menos mediatizados, onde haja alguma causa de direitos humanos a defender ou um preso político a apoiar, como oferece o seu nome, imagem e tempo à luta contra a violência feita às mulheres numa representação memorável, no PE, da célebre peça Monólogos da Vagina.

Carlos Coelho, PSD
É a voz mais credível, respeitada e mesmo incontornável não só no seu grupo parlamentar (PPE) mas em todo o PE nas áreas da livre circulação de cidadãos, acordos de Schengen e imigração. É por isso que se pode dar ao luxo de escolher os relatórios que quer fazer e as áreas em que quer intervir, ao contrário da maioria dos parceiros.

OS FORMIGUINHAS

Luís Capoulas Santos, PS
É um dos deputados mais influentes na área da agricultura, de tal forma que é o coordenador dos socialistas nesta área. Teve a responsabilidade pelo gigantesco e ultratrabalhoso relatório sobre uma boa parte da reforma da Política Agrícola Comum (PAC) 2014-2020 em que o PE teve pela primeira vez um poder de co-legislador com o Conselho de Ministros da UE.

Graça Carvalho, PSD
Está para a política de investigação científica como Capoulas Santos está para a agricultura. Teve a seu cargo o grande relatório sobre o programa-quadro europeu de investigação para 2014-2020, um colosso legislativo, embora se trate de uma área em que o poder de imposição das posições do PE é mais limitado.


OS DILIGENTES

Marisa Matias, BE
É, entre os portugueses, uma das figuras ascendentes, talvez mesmo a maior revelação entre os “caloiros” nacionais, com trabalho reconhecido, nomeadamente na área do combate aos medicamentos falsificados. Está também a começar a afirmar-se na comissão dos assuntos económicos, desde que substituiu, há dois anos, Miguel Portas, muito apreciado entre os seus pares.

Diogo Feio, CDS
Outra figura ascendente, centrou o seu trabalho na comissão dos assuntos económicos. A sua exclusão da lista do PSD/CDS para as eleições europeias retira a estes partidos o único deputado que começava a afirmar-se numa área decisiva para os próximos anos.

Vital Moreira, PS
É o deputado português com maior número de relatórios – 47 –, o que se deve sobretudo ao facto de presidir à comissão parlamentar do comércio internacional e de ter de agarrar os temas menores que ninguém quer. Mesmo assim, a sua competência é reconhecida e apreciada. Tem actualmente em mãos um relatório de grande envergadura sobre o acordo de comércio livre entre a UE e os Estados Unidos.

José Manuel Fernandes, PSD
Tem um dos maiores números de relatórios entre os portugueses – dez –, embora a maior parte de importância muito secundária. Os seus pares acreditam que poderá vir a “dar cartas” na comissão dos orçamentos. Um dos “picos” do seu mandato foi o convite, a expensas do PE, da equipa de actores da novela Morangos com Açúcar, que lhe valeu uma participação num episódio.

Rui Tavares, dissidente do BE
É outra figura ascendente, com seis relatórios nas áreas dos direitos humanos, incluindo na Hungria, e da política de refugiados. Gostava de ter maior visibilidade, mas, nomeadamente porque pertence a um pequeno grupo parlamentar – primeiro a Esquerda Europeia, depois Os Verdes desde que saiu do BE –, tem um campo de acção limitado.

João Ferreira, CDU
Acumula sete relatórios, todos na área das pescas, dos quais a maioria de importância secundária. Como pertence a um pequeno grupo parlamentar, tem dificuldade em agarrar temas mais relevantes.


 

OS REGIONAIS

Maria do Céu Patrão Neves e Nuno Teixeira, PSD, e Luís Paulo Alves, PS
São os deputados das regiões autónomas que concentraram o seu trabalho nos interesses muito pequenos e específicos das ilhas. Dos três, foi Patrão Neves quem produziu mais trabalho, sobretudo na área das pescas.


OS DISCRETOS

António Correia de Campos, PS
Apesar de globalmente discreto, teve um relatório importante sobre as redes transeuropeias de energia.

Regina Bastos, PSD
Tem três relatórios no activo, ligados ao mercado interno, assuntos sociais e direitos das mulheres, embora de natureza não legislativa.


O MUITO DISCRETO

Nuno Melo, CDS
Viu aprovado pelo PE há apenas duas semanas o seu primeiro relatório, relativo à investigação penal entre Estados-membros para recolha de elementos de prova. Parece trabalhar sobretudo para consumo nacional e queixa-se regularmente de que a imprensa portuguesa não lhe dá a atenção que pensa merecer. Orgulha-se de ter organizado dois concursos para jovens agricultores.

A POLÉMICA

Edite Estrela, PS
Tornou-se conhecida no PE por causa de algumas causas fracturantes que abraçou em áreas em que a UE não tem qualquer competência, como as licenças de maternidade ou os direitos sexuais e reprodutivos, que geraram forte polémica e lhe valeram uma muito apreciada mediatização.


OS POLÍTICOS

Paulo Rangel, PSD
O seu trabalho desenvolve-se sobretudo ao nível do grupo parlamentar do PPE, o maior do PE, cuja direcção integra. É considerado muito influente dentro do grupo, onde vai fazendo passar a sensibilidade portuguesa, tendo nomeadamente obtido o apoio dos seus pares para limitar a redução do número dos eurodeputados portugueses em resultado da adesão da Croácia à UE.

Mário David, PSD
Trabalha sobretudo no partido PPE – a federação dos partidos de centro direita –, o que não tem propriamente que ver com o PE, onde é considerado muito influente: foi ele que aí “trabalhou” na sombra, durante longos meses, a nomeação de Durão Barroso para presidente da Comissão Europeia em 2004. Na área das relações externas, a sua área de acção no PE, suscita interrogações entre os seus pares sobre algumas das causas que defende junto de regimes políticos menos democráticos.

AS NOVATAS

Alda Sousa, BE, e Inês Zuber, CDU, chegaram ao PE já com a legislatura bem avançada, em substituição de Miguel Portas e de Ilda Figueiredo, respectivamente. Não tiveram muito tempo para se afirmar, embora Alda Sousa esteja a começar a fazer o seu caminho abraçando algumas causas de direitos humanos.

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