PSP com ordem para usar gás lacrimogéneo e não a força na manifestação de polícias

Corpo de intervenção, que tinha parte do lote de gás lacrimogéneo expirado, recebeu novo stock há uma semana. Cerca de 200 elementos guardam a escadaria. GNR terá 40 à espera no interior do Parlamento.

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Imagem da manifestação de polícias em Novembro Tiago Machado

O Corpo de intervenção (CI) da Unidade Especial de Polícia (UEP), que hoje estará reforçado para controlar a manifestação dos colegas agentes na Assembleia da República (AR), recebeu novos lotes de gás lacrimogéneo há cerca um semana.

Alguns lotes daquele gás, normalmente usado para fazer dispersar manifestantes e manter a ordem pública, mantinham-se dentro do prazo, mas há quase três anos que uma boa parte tinha ultrapassado a validade, confirmou ao PÚBLICO fonte da UEP.

A mesma fonte revelou que a UEP planeia usar o gás lacrimogénio contra os colegas manifestantes se tal for necessário e só em último caso. Durante os últimos briefings aos vários subgrupos da UEP, as chefias vincaram a necessidade de reduzir ao máximo a possibilidade de qualquer margem para o registo de violência.

Há ordens para não usar os bastões nem efectuar cargas. A indicação mais sublinhada naquele corpo policial é de recorrer ao gás para fazer dispersar os manifestantes. Este é o plano da PSP para impedir que a tensão latente resulte numa batalha entre agentes de serviço e agentes manifestantes, apurou o PÚBLICO.

“É do conhecimento público que existem procedimentos concursais para a aquisição desses equipamentos. Não há qualquer relação entre a compra do gás e a manifestação”, disse o subintendente Paulo Flor, porta-voz da direcção nacional da PSP.

O MAI confirmou ao PÚBLICO que não teve qualquer intervenção ou decisão no procedimento de compra daquele gás e remeteu todas as explicações para a direcção nacional da PSP.

Agentes manifestantes levam armas de serviço
Dentro da AR, logo à entrada, estará um grupo do Pelotão de Manutenção da Ordem Pública da GNR com cerca de 40 homens. Tal servirá para uso em último recurso. “Confirmo e recordo que a GNR tem a responsabilidade pela segurança do edifício da AR”, disse o major Cruz, porta-voz da GNR. No local estarão mais de 200 elementos do CI e outros tantos estarão de prevenção no quartel. Também o CI do Porto está de prevenção.

Várias fontes policiais contaram ao PÚBLICO que muitos dos manifestantes já garantiram que levam consigo a arma de serviço e até o gás pimenta com que costumam andar quando estão fardados. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar Paulo Rodrigues, secretário-nacional da Comissão Coordenadora Permanente (CCP) dos Sindicatos e Associações dos Profissionais das Forças e Serviços de Segurança.

Aquela estrutura representa os principais sindicatos ligados à PSP, GNR, Polícia Marítima, SEF, Guardas Prisionais e ASAE, que estarão nesta quinta-feira presentes na manifestação que partiu da Praça Marquês de Pombal pelas 17h30 com desfile até ao Parlamento. É lá que as autoridades esperam o maior clima de tensão.

Cerca de 10 mil polícias estiveram presentes na última manifestação de 21 de Novembro do ano passado quando alguns agentes chegaram a invadir a escadaria da Assembleia da República, o que levou à demissão do então director nacional, Paulo Valente Gomes. “Penso que esta manifestação terá ainda mais gente. As pessoas estão revoltadas”, disse recentemente ao PÚBLICO, Rodrigues. Já António Ramos do Sindicato dos Profissionais de Polícia “acredita que tudo irá correr bem”.

Polícias revoltados com cortes salariais
Os policias dizem-se enganados pelo Ministério da Administração Interna. Diversas reuniões recentes com a tutela acabaram com um aumento de 25 euros no subsídio de fardamento quando a média de cortes salarias entre os agentes é de 200 euros, à semelhança do previsto para os restantes funcionários públicos.

Os polícias exigem, por isso, alguma forma de compensação e asseguravam que era isso que estavam a negociar com o Governo. O ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, veio, porém, depois dizer que nunca pretendeu negociar formas de compensação dos cortes o que inflamou os ânimos entre os policias.

Os agentes reivindicam ainda subsídios de risco, integração dos familiares directos nos vários sistemas de saúde a que pertencem como polícias e questões relativas aos estatutos e carreiras dos profissionais de todas essas forças.

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