Ao calharaz

Na terça-feira, tinha a Praia das Maçãs sobrevivido a uma onda terrorista, conhecemos e comemos um impostor cozido com grelos de couve galega e os primeiros espargos do ano, sabia e respeitosamente cultivados pelo nosso amigo João Maria.

O ano passado houve parcos espargos mas este ano a vingança fui dulcíssima: sabiam por cinco ou seis anos de fome, tal era a delícia. Os primeiros espargos chegaram cedo, em jeito de consolação pela Primavera que nem sequer às escondidas se deixa avistar.

Os grelos de couve galega - conhecidos aqui por espigas - são um petisco que procurávamos há anos sem ponta de satisfação. São folhas generosas com um sabor fresquinho e acidulado. São mais sumarentas que os espinafres e mais saborosas do que as ramas de beterraba ou de nabo. Parecem-se um pouco com os grelos de couve-nabo, mas com mais personalidade.

Não compreendo porque é que as couves galegas são todas trituradas para fazer ripas para caldo verde. A julgar pelos grelos poderão estar a ser gravemente subestimadas. Porque não há à venda grelos de couve galega, ao lado dos de nabo e de couve? É mais um mistério da nossa agricultura.

Entretanto o peixe impostor era um calharaz (pontinus kuhlii) que gosta de se fazer passar por cantarilho-legítimo (Helicolenus dactylopterus dactylopterus) e até pelo augusto rascasso-vermelho (Scorpaena scrofa), o melhor dos peixes portugueses.

Dito isto, não era nada mau o raio do calharaz: era fofo mas bom. Recomenda-se.

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