Reserva das Dunas de São Jacinto, um santuário natural com 35 anos

Área protegida situada no concelho de Aveiro assinala, esta quinta-feira, o seu aniversário. E há quem aproveite a ocasião para lançar o alerta: a reserva já viveu melhores dias.

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Adriano Miranda

É considerado um dos melhores exemplos de preservação da natureza e biodiversidade costeira, uma espécie de santuário natural que acolhe uma enorme variedade de espécies animais e vegetais. A Reserva Natural das Dunas de São Jacinto abrange uma área aproximada de 960 hectares e está localizada na península que se estende entre o braço norte da ria de Aveiro e o mar. Esta semana, esta área protegida, que tem servido também de laboratório vivo, completa o seu 35.º aniversário - a data formal de classificação desta reserva remonta a 6 de Março de 1979.

A aposta de proteger esta área natural ficou a dever-se à tomada de consciência de que “as formações dunares são zonas muito sensíveis” e deveras importantes na defesa contra a intensidade dos ventos, das areias e dos avanços do mar - salvaguardando a vida das populações. Segundo explicou Angelina Barbosa, técnica do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) que está responsável pela gestão da reserva, na época, “também pesou na classificação o facto de São Jacinto albergar a colónia de garças mais setentrional do país”.

“Estamos numa zona húmida, importante para as aves migratórias e era importante criar uma área protegida que permitisse que as aves encontrassem refúgio”, justificou ainda Angelina Barbosa. Passados 35 anos, não restam quaisquer dúvidas de que o objectivo foi cumprido. “À medida que vamos protegendo as áreas, outras espécies de vegetação vão encontrando luz e crescendo, e isso também faz com que outro tipo de aves apareçam por aqui”, argumenta.

Garças, mergulhões, patos-reais ou andorinha-do-mar-comum são apenas algumas das espécies de aves facilmente observáveis na reserva, onde também é possível encontrar alguns mamíferos, como a raposa e a geneta. Ao nível da vegetação, a variedade de espécies também é grande, até porque esta área protegida é feita de uma zona de dunas (e na qual proliferam espécies espontâneas como o estorno, cardo-marítimo e narciso-das-areias) e outra de floresta (com pinheiro-bravo, choupo-negro, amieiro, samouco, entre outras).

Há uma espécie vegetal, em particular, que assume lugar de destaque, e pelos piores motivos: a acácia. Trata-se de uma espécie invasora que começou a proliferar na reserva depois do grande incêndio de 1995, que ainda está na memória de muitas pessoas - as chamas alastraram-se ao longo de vários hectares da área protegida e deixaram marcas que ainda não foram totalmente apagadas.

Reserva contribui para a economia local
Passados estes 35 anos após a classificação, já não restam dúvidas quanto à importância da Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, nomeadamente para a freguesia onde está implementada – e que está separada do resto município de Aveiro pela água da ria. “Traz muitos visitantes à freguesia, pessoas que acabam por consumir aqui, dinamizando a economia de São Jacinto”, sublinhou o autarca, ao PÚBLICO. Contudo, António Costeira, mostra-se preocupado com aquilo que diz ser o “desleixo” do governo em relação à reserva.

“Tem havido um grande desprezo e a reserva já viveu dias melhores”, lamenta. “Sei que as pessoas que lá trabalham fazem tudo o que podem, mas, com os cortes orçamentais, a reserva começa a ficar posta de lado”, explicou o autarca, dando alguns exemplos: “o centro de acolhimento da reserva está encerrado, por falta de condições, e há trilhos que começam a estar mal sinalizados”. A manter-se este cenário, António Costeira teme que “as pessoas comecem a deixar de sentir vontade de visitar a reserva”.

Comemoração na Universidade de Aveiro
A celebração do 35.º aniversário da reserva será feita “fora de portas”, mais concretamente na Universidade de Aveiro (UA), e culmina com um momento de reflexão em torno desta área protegida. A iniciativa terá lugar esta quinta-feira, a partir das 14h30 horas, no Auditório do Departamento de Ambiente e Ordenamento da UA.

O debate contará com os contributos do antropólogo Pedro Castro Henriques, do ICNF, de Cristina Bernardes, professora do Departamento de Geociências, de António Luís, professor do Departamento de Biologia, e de Rosa Pinho, responsável pelo Herbário da UA. O debate será antecedido, na parte da manhã, por actividades diversas a realizar na própria Reserva.

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