Presidente nomeado após golpe na Guiné-Bissau afasta candidatura ao cargo

Serifo Nhamadjo não concorre por ter assinado "pacto de transição" que o levou ao poder. Gomes Júnior, derrubado em 2012, quando se preparava para ser eleito, e que queria voltar a candidatar-se, não teve o apoio do PAIGC e renunciou.

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Serifo Nhamadjo gostaria de concorrer mas não o fará SIA KAMBOU/AFP-Arquivo

O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, afastou o cenário de uma candidatura nas eleições previstas para 13 de Abril. Os principais concorrentes já são conhecidos e a ausência mais notada é a de Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro derrubado pelo golpe de Estado de 2012.

Nhamadjo, nomeado após o golpe, pôs na segunda-feira termo aos persistentes rumores de que tencionava candidatar-se. “Não serei candidato às presidenciais e peço aos meus apoiantes que me compreendam”, disse, citado pela AFP, numa conferência de imprensa, em Bissau.

O pacto de transição assinado entre os militares golpistas e políticos guineenses, com o apoio da CEDEAO (Comunidade Económica de Estados da África Ocidental) – que levou à sua nomeação, em Maio de 2012 – determinava que Nhamadjo não pudesse concorresse. Mas nos últimos tempos surgiram sinais em sentido contrário e foi criado um grupo de apoio à sua candidatura.

“É uma questão de princípio, porque assinei o pacto de transição”, afirmou agora, ainda que não tenha escondido a vontade de concorrer. “Serei o garante da paz e da estabilidade”, disse também.

O prazo para apresentação de candidaturas prolonga-se até esta quarta-feira. A campanha eleitoral – quer para as presidenciais quer para as legislativas, marcadas para o mesmo dia – deve começar a 22 de Março e prolongar-se até 11 de Abril.

Estão pré-anunciadas mais de uma dezena de candidaturas e confirmada a ausência Gomes Júnior, derrubado a 12 de Abril de 2012, entre a primeira e a segunda volta das presidenciais. Cadogo, como é mais conhecido na Guiné, então líder do PAIGC (Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde), era o quase certo vencedor depois de ter conseguido na primeira volta  cerca de 49% dos votos.

Exilado, depois de ter estado temporariamente detido, Gomes Júnior vive actualmente em Cabo Verde. Manifestou nos últimos meses a intenção de se candidatar, mas não teve o apoio do seu partido, que entretanto elegeu um novo líder – Domingos Simões Pereira, antigo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).

Simões Pereira tinha já excluído o apoio a Cadogo e defendido o seu regresso ao país apenas “num quadro de normalidade”. A decisão do PAIGC de não apoiar o seu ex-líder foi justificada por alegada falta de documentos e pelo facto de estar fora do país, o que o impediria de apresentar pessoalmente a sua moção de estratégia.

O PAIGC escolheu no domingo como candidato José Mário Vaz, Jomav, economista e antigo ministro das Finanças de Gomes Júnior. Ainda que o nome de Gomes Júnior não tivesse sido submetido a votos, vários membros do comité central escolheram-no, sendo os boletins considerados nulos.  O antigo chefe do Governo acatou a decisão.

Entre os outros candidatos, cujas candidaturas terão agora de ser validadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, está o empresário Abel Incada, apoiado pelo PRS (Partido da Renovação Social), principal força da oposição à data do golpe. Paulo Gomes, um antigo economista do Banco Mundial, que tem o apoio de intelectuais, e Tcherno Djaló, professor universitário e ex-ministro da Educação, são outros concorrentes, ambos independentes, já confirmados.

A Guiné  tem uma história recente de golpes de Estado e assassínios políticos. Dirigentes do país, designadamente chefias militares, são suspeitos de ligação ao tráfico internacional de droga.

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