Indústria do calçado investe na China, Rússia, Índia e Japão

A delegação portuguesa presente na MICAM, a prestigiada feira de Milão, é a segunda maior com 88 empresas presentes. Exportações representam mais de 90 por cento da facturação.

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As exportações do sector cresceram 8% em 2013, ultrapassando os 1700 milhões de euros Manuel Roberto

As empresas portuguesas de calçado estão a apostar nos mercados externos à União Europeia para contornar a crise. Entre as 88 presentes em Milão (Itália), na edição deste ano da MICAM, a mais prestigiada feira de sapatos, boa parte procura expandir-se para a China, Rússia, Índia e Japão.

Aliás, a maior parte da facturação destas empresas já tem vindo a resultar da exportação. E foi precisamente para a China que se verificou um maior aumento, com um crescimento de 144% que resultou num volume de negócios de 5,5 milhões de euros em 2013, segundo a Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS).

A delegação portuguesa é a segunda maior depois da espanhola na MICAM, que conta com mais de 1600 expositores de 50 países e decorre até quinta-feira em Milão. O sector cresceu 8% no ano passado, tendo sido ultrapassado pela primeira vez o máximo histórico dos 1700 milhões de euros exportados, segundo a APICCAPS.

“Os nossos planos passam pela abertura da No Brand China. Para já, ainda estamos em Hong Kong, mas depois iremos para Xangai onde criaremos um centro. Há lá muito ocidental e muita gente gira que gosta de calçar à ocidental. O investimento inicial será de 150 mil euros”, disse Sérgio Cunha, presidente do grupo Pedreira, que detém a marca, à margem de um périplo pelas empresas nacionais que o PÚBLICO fez na MICAM.

Só em 2013, a No Brand, que espera entrar ainda na América do Sul e na Rússia, facturou 14 milhões. “Este ano queremos crescer a dois dígitos”, disse o responsável, revelando que a “grande aposta é na parte criativa”. A No Brand emprega 120 trabalhadores e exporta 95% do que produz.

Também o grupo Carité Calçado, com 230 trabalhadores em Felgueiras, tem a mira das exportações apontada para a China. Essa é uma “aposta para os próximos cinco anos”, disse o seu presidente Reinaldo Teixeira, sublinhando que o investimento será feito em Xangai. Teixeira não descura, porém, outros mercados como “França, Espanha, Rússia e Japão”.

A Carité está ainda envolvida num projecto recente com a Adidas. A marca encomendou sapatos clássicos de couro à empresa portuguesa. “Começámos a fornecer já os primeiros pares em Janeiro. Eles vieram a Portugal e escolheram-nos”, explicou Teixeira.

Já a J.J. Heitor, empresa de Santa Maria da Feira que há 50 anos produz sapatos para outras marcas, surgiu na feira com a sua própria marca criada há um ano. “Temos um distribuidor na China que começou a trabalhar na época passada. Estamos a tentar também um representante na Rússia”, esclareceu o presidente da empresa, Joaquim José Heitor. Apesar de tímida, o responsável faz questão de sublinhar a conquista da primeira encomenda de 160 sapatos para a China.

“Há muitas empresas a nascer neste sector e muitas a criar as suas próprias marcas de sapatos. Muita gente veio da área da moda. Este sector cria oportunidades de carreira”, ilustrou o director de comunicação da APICCAPS, Paulo Gonçalves.

Para a Paradigma, negócio familiar com 27 anos, a feira começou bem com a conquista de encomendas “para Singapura” adiantou o responsável Paulo Ferreira. A empresa, que emprega 90 pessoas, facturou 5,5 milhões em 2013 (90% destinados a exportação).

Na feira está ainda presente a Aerosoles, da Move On, que já chegou a ser a maior empresa nacional produtora de calçado, antes de adquirida por indianos durante a sua insolvência. “Esperamos duplicar esse valor [15 milhões facturados em 2013] no fecho do próximo ano e instalar 30 a 40 pontos de venda nas principais cidades da Índia”, apontou o director-geral, Fernando Brogueira.

O jornalista viajou a convite da APICCAPS

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