Exército ucraniano em "estado de alerta"

Embaixador da Ucrânia na ONU diz que estão 15 mil soldados russos na Crimeia. Sectores mais radicais apelam à "mobilização geral".

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Foi dia de agitar bem alto bandeiras russas na Crimeia David Mdzinarishvili/REUTERS
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Homens armados em veículos militares russos na cidade da Crimeia de Balaclava Baz Ratner/REUTERS
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Protesto em Kiev contra a decisão da Duma russa de autorizar entrada de tropas na Ucrânia LOUISA GOULIAMAKI/AFP
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Manifestante na praça Maidan, em Kiev BULENT KILIC/AFP
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Mulheres vestidas com fatos tradicionais cantam o hino no centro de Kiev David Mdzinarishvili/REUTERS
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Homens armados guardam o aeroporto de Belbek, na Crimeia Baz Ratner/REUTERS
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Funeral de um manifestante morto pela polícia nos confrontos da praça Maidan, em Kiev BULENT KILIC/AFP

O Presidente ucraniano interino, Oleksander Turchinov, anunciou ao início da noite de sábado que colocou o exército em estado de alerta, esperando uma possível intervenção militar russa.

"Dei ordem para colocar o exército em estado de alerta, de reforçara a protecção das centrais nucleares, dos aeroportos e dos locais estratégicos", afirmou Turchinov, após uma reunião extraordinária do Conselho de Ministros.

O primeiro-ministro, Arseni Iatseniuk, acredita que "a Rússia não irá lançar uma intervenção porque isso significaria a guerra e o fim de todas as relações entre os dois países".

A câmara alta do Parlamento russo, o Conselho da Federação, aprovou este sábado o envio de forças armadas para a Crimeia, na Ucrânia, após um pedido do Presidente Vladimir Putin.

A possibilidade de uma intervenção armada russa já levou a apelos à mobilização popular na Ucrânia. Vitali Klitschko, um dos líderes da oposição ucraniana que depôs Ianukovich, apelou à "mobilização geral" contra aquilo que designou como "agressão russa".

A mesma ideia de mobilização foi partilhada pelas franjas mais extremistas que apoiaram os protestos dos últimos meses. "É a guerra! A sociedade ucraniana deve mobilizar-se ao máximo", afirmou o partido de extrema-direita Svoboda, através de um comunicado de imprensa em que pedia ao Presidente interino que declarasse o "estado de guerra" no país.

O Sector Direito, um grupo paramilitar nacionalista, também apelou aos seus apoiantes para se "mobilizarem e se armarem urgentemente", segundo a AFP. O seu líder, Dmitro Iarosh, terá mesmo dirigido palavras a Dokka Umarov, o líder separatista checheno, a juntar-se a si contra Moscovo, segundo a televisão russa RT.

Após uma reunião extraordinária do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador ucraniano nas Nações Unidas afirmou que se encontram 15 mil soldados russos na Crimeia e apelou àquele órgão para que impeça a "agressão da Federação Russa à Ucrânia".

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Sergei Deshchiritsia, pediu à NATO que estude a utilização "de todas as possibilidades para proteger a integridade territorial e a soberania da Ucrânia, o povo ucraniano e as instalações nucleares no território ucraniano". A NATO deverá reunir este domingo depois de a Polónia ter pedido uma reunião de emergência, invocando o artigo 4º, apenas pela quarta vez na história da aliança.

O Presidente polaco, Bronislaw Komorowski, justificou o pedido por receio para o próprio país causado por "uma intervenção militar russa potencial sobre o território da vizinha Ucrânia".

Acção para proteger cidadãos russos

A declaração de Putin responde a uma moção também este sábado pela Duma, a câmara baixa do Parlamento russo, apelando ao Presidente para que agisse para garantir “estabilidade da Crimeia e usar todos os meios disponíveis para proteger o povo da Crimeia da tirania e da violência”.

“Devido à situação extraordinária na Ucrânia, a ameaça à vida de cidadãos da Federação Russa, nossos compatriotas, e ao pessoal das Forças Armadas da Federação Russa em território ucraniano (na República Autónoma da Crimeia), submeto uma proposta sobre o uso de forças armadas no território da Ucrânia até à normalização da situação socio-política desse país", lia-se no texto que Putin enviou para o Conselho da Federação Russa.

A declaração que autorizou o Presidente a usar as Forças Armadas para proteger "cidadãos russos" na Crimeia foi aprovada no Conselho da Federação Russa por unanimidade. Mas os deputados querem também responder ao aviso do Presidente norte-americano, Barack Obama, que na véspera afirmou que “qualquer violação da integridade territorial e soberania da Ucrânia seria profundamente desestabilizadora”.

"É preciso responder ao Presidente [Obama]", "mostrar-lhe que atravessou uma linha vermelha e humilhou o povo russo", defendeu o vice-presidente do Conselho da Federação Russa, Iuri Vorobev, citado pela AFP. 

Agora, cabe a Putin dar a ordem para as tropas avançarem. Mas, "de momento, não há qualquer decisão nesse sentido", clarificou à agência RIA Novosti o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov. A resolução aprovada "é o ponto de vista do Conselho da Federação. É o Presidente que toma a decisão", afirmou.

A interpretação da resolução do Kremlin tem despertado alguma ambiguidade. Alguns observadores dividem-se quanto ao alcance da intervenção russa, não sendo ainda claro se se aplica a todo o território ucraniano ou apenas à região da Crimeia.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas vai reunir-se neste sábado em Nova Iorque, à porta fechada, para discutir a situação na Crimeia. No espaço de dois dias esta será a segunda reunião do órgão da ONU sobre a crise ucraniana.

A Rússia já tem militares no local. E mesmo antes do pedido de Putin ao Senado, já era claro que forças aliadas de Moscovo controlavam em grande parte a Crimeia. 

Novo líder regional pediu intervenção

O primeiro-ministro pró-russo da Crimeia, Sergei Aksionov, disse que as forças russas estão a guardar alguns edifícios públicos na Crimeia, com o consentimento das novas autoridades da região, onde a maioria dos habitantes é étnica e culturalmente russa, segundo a Reuters.

Aksionov, que foi empossado na quinta-feira – num processo declarado irregular já neste sábado pelo Presidente interino da Ucrânia, Oleksander Turchinov – tinha também pedido ajuda a Putin “para garantir a paz na Crimeia”.

O primeiro-ministro interino da Ucrânia acusou a Rússia de estar tentar provocar uma escalada. A Rússia acusou pelo seu lado “homens armados de Kiev” de terem tentado tomar o ministério do Interior da Crimeia durante a madrugada, e o “círculo político de Kiev” de tentar “manobras de desestabilização”. A polícia da Crimeia negou entretanto que tivesse havido confrontos no edifício ou qualquer tentativa de o tomar.

O correspondente da BBC em Sebastopol, Mark Lowen, diz que apesar de não haver confirmação de quem são os homens armados que estão a posicionar-se em zonas-chave do território, não parece haver provas do que a Ucrânia diz ser a “ocupação e invasão militar da Crimeia”. “Não parece ter chegado tão longe – ainda”, comenta Lowen. “As cidades estão relativamente clamas e não há sinais de uma revolta armada, só o controlo que continua de locais-chave como aeroportos e edifícios de comunicações.”

Mas o enviado da estação britânica privada ITV, James Mates, dizia no Twitter que as tropas russas estão a assumir acções de policiamento em Simferopol. “A ocupação está agora abertamente visível”, comentou.

Durante o dia de sábado houve por outro lado manifestações em Donetsk e outras cidades do Leste da Ucrânia, onde também a maioria da população se define como de origem russa, e onde se localiza o bastião do Presidente deposto Victor Ianukovich. Em Kharkiv, houve mesmo confrontos com feridos. 

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