Coreia do Sul avisa Japão para custo de negar existência das "mulheres de conforto"

Governo de Tóquio anunciou que testemunhos de 16 coreanas que serviram de base a pedido de desculpas apresentado pelo Japão em 1993 vão ser reexaminados.

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Imagens de arquivo de manifestações de "mulheres de conforto", que reclamavam pedidos de desculpas e compensações AFP

A polémica sobre as “mulheres de conforto” está de volta. A Presidente da Coreia do Sul avisou o Japão de que só vai isolar-se sobre si próprio se vier a rever uma declaração em que, há mais de duas décadas, reconheceu o recurso a milhares de escravas sexuais durante a II Guerra Mundial.

“O Japão só iria isolar-se a si próprio se fizesse ouvidos moucos aos testemunhos e varresse o assunto para debaixo do tapete para conseguir benefícios políticos”, disse Park Geun-hye, que apelou ao Governo de Tóquio para assumir a “verdade e reconciliação”.

“A verdade histórica está no testemunho dos sobreviventes”, disse a Presidente, que, citada pela BBC, discursava numa cerimónia para assinalar o levantamento coreano de 1919 contra o domínio colonial japonês.

Park Geun-hye incitou o Japão a arrepender-se do seu passado – como fez a Alemanha – para que os dois países asiáticos “avancem para uma nova era de cooperação, paz e prosperidade”. “Espero que o Japão se liberte da negação da história e comece a fazer uma nova história de verdade e reconciliação.”

Segundo a maior parte dos historiadores, o Japão obrigou, nas décadas de 1930 e 1940, cerca de 200 mil mulheres a prostituirem-se em “bordéis do exército” criados nas frentes de guerra. A explicação dada para a existência de “mulheres de conforto”, ou “mulheres de alívio”, era evitar violações, reduzir o risco de doenças sexualmente transmissíveis e minimizar a espionagem. As mulheres eam coreanas mas também chinesas, indonésias,  filipinas, vietnamitas ou cambojanas. Pouco mais de 50 são ainda vivas.

O Japão apresentou um pedido de desculpas apresentado em 1993 mas sempre recusou sempre pagar indemnizações.

O caso regressou esta semana à ordem do dia quando o secretário-geral do governo de Tóquio, Yoshihide Suga, disse que os testemunhos de 16 coreanas, antigas “mulheres de conforto”, cujos depoimentos serviram de base ao pedido de desculpas de 1993 vão ser reexaminados. “O governo vai estudar a possibilidade de um reexame” das declarações, disse, segundo a AFP.

Desde o pedido de desculpas de 1993, declarações regulares de dirigentes da direita japonesa – é essa a orientação do actual Governo - mantêm em aberto um assunto que suscita reacções de desagrado principalmente da Coreia do Sul e da China. No mês passado, o presidente da rádio e televisão públicas, NHK, disse que a prostituição forçada de mulheres era “frequente” nos países em guerra, numa declaração que foi entendida como pretendendo atenuar a responsabilidade do Japão.

Quem não hesita em dizer que o governo nipónico "esteve envolvido” na criação de bordéis é Tomiichi Murayama, primeiro-ministro entre 1994 e 1996, um social-democrata cujo nome ficou ligado a outro pedido desculpas – o que o Japão fez fem 1995 pelos sofrimentos infligidos aos povos da Ásia. “Não há qualquer dúvida”, disse.

“Pergunto-me se o facto de encontrar algumas imprecisões naquelas declarações servirá os interesses do Japão”, afirmou também Murayama.  O antigo chefe do governo declarou que as desculpas pelas "mulheres de conforto" apresentadas em 1993se seguiram a um “exame detalhado” dos seus testemunhos.

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