Entrevista com o padre José Ornelas Carvalho: “Se houver razões para tomar medidas, não hesitaremos em fazê-lo”

O padre português José Ornelas Carvalho é o Superior Geral da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (dos Padres Dehonianos), uma congregação religiosa da Igreja Católica Respondeu às perguntas do PÚBLICO a partir de Roma, por email.

A Congregação dos Dehonianos mantém o padre Ilario à frente do Centro Polivalente Leão Dehon, em Moçambique, por não acreditar nas suspeitas que recaem sobre ele?
É um princípio elementar de justiça que uma pessoa, sobre quem se levantam dúvidas, não seja considerada culpada sem que isso apareça claro. Para além disso, nestes casos que têm a ver com a defesa de menores, é necessário ver se há probabilidade de haver veracidade nas acusações e perigo para os menores, mesmo antes de chegar a conclusões definitivas sobre a culpabilidade. Das investigações até agora feitas por nós e, por quanto sei, pelas duas procuradorias que investigam o caso [em Itália e em Moçambique], até este momento, não foi encontrada nenhuma base para essas suspeitas. Se aparecerem dados novos que suscitem preocupação, evidentemente que reagiremos adequadamente. Devo esclarecer, além disso, que temos na Congregação uma organização descentralizada. A decisão de manter o padre Ilario como responsável do Centro Polivalente é uma decisão autónoma do Superior Provincial de Moçambique.

Qual a ligação do padre Luciano Cominotti, que gere o orfanato, à sua Congregação? Ele passou um ano no seminário em Alfragide da Congregação em Portugal.
O padre Luciano é um padre da diocese do Gurúè. Nunca pertenceu à nossa Congregação nem esta tem qualquer autoridade ou responsabilidade sobre ele. Trabalhamos na mesma Igreja e é natural que as pessoas se conheçam e colaborem para objectivos comuns, mas cada um dentro do seu estilo de vida, a sua missão e a sua responsabilidade.

Da mesma maneira que teve conhecimento de uma denúncia relativa a Guruè, soube de alguma denúncia noutras obras da sua Congregação em Moçambique?
Denúncias de abuso de menores nessas comunidades, pelo menos no meu tempo de gestão da Congregação, a mim não chegaram. Da parte da Congregação, tem havido a preocupação de investigar os factos e de colaborar com as investigações das autoridades competentes. Se houver razões para tomar medidas correctivas, para além dos cuidados preventivos neste campo, não hesitaremos em fazê-lo, de acordo com as nossas orientações para a protecção de menores, particularmente nos centros de ensino.

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