Filhos de homens mais velhos podem ter um maior risco de doenças mentais

Estudo analisou uma vasta amostra de 2,6 milhões de crianças entre 1973 e 2001.

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Apesar de haver poucos candidatos, existem crianças para serem apadrinhadas Adriano Miranda

Uma criança cujo pai tenha 45 ou mais anos pode ter um maior risco de vir a sofrer de doenças mentais, ter um quociente de inteligência mais baixo ou ter piores resultados na escola do que era até agora estimado. As conclusões são de um estudo de investigadores norte-americanos e suecos.

Com base em dados recolhidos entre mais de 2,6 milhões de crianças nascidas entre 1973 e 2001, na Suécia, filhas de pais com várias idades, o estudo da Universidade do Indiana, nos EUA, e do Instituto Karolinska, em Estocolmo, concluiu que as crianças que tinham um pai com uma idade mais avançada foram mais frequentemente diagnosticadas com distúrbios psiquiátricos como autismo, transtorno do défice de atenção e hiperactividade, doença bipolar e esquizofrenia.

Foi ainda encontrada uma maior tendência para tentativas de suicídio ou consumo de drogas e piores resultados escolares, bem como quocientes de inteligência mais baixos.

A investigação, divulgada nesta quinta-feira no JAMA Psychiatric, jornal da American Medical Association, revela que uma criança filha de um pai com 45 anos quando comparada com outra concebida por um pai de 20 a 24 anos, a primeira tem uma maior tendência de vir a sofrer de autismo, 13 vezes mais riscos de ter o transtorno do défice de atenção e hiperactividade, duas vezes mais hipóteses de sofrer psicoses, 25 vezes mais probablidades de revelar a doença bipolar e 2,5 vezes mais tendência a manifestar um comportamento suicida ou a consumir substâncias.

Ficou também estabelecido que menos de 1% das crianças nascidas de pais com menos de 45 anos sofriam de doença bipolar, uma percentagem que sobe para 14% quando o alvo de análise foram gémeos e os pais tinham 45 ou mais anos. Em muitos casos, o risco de surgir cada doença aumentou progressivamente com a idade do pai. 

Idade da mãe também conta
No seu estudo, os investigadores admitem que tiveram em conta vários factores que podem ter influenciado os resultados, incluindo a idade da mãe no momento da concepção, o nível de educação dos pais e o historial familiar de doenças mentais, mas sustentam que mesmo assim foram encontrados sérios riscos para a criança associados à idade do pai.

Apesar desta associação entre uma idade parental avançada e um maior risco de distúrbios mentais, a Universidade do Indiana sublinha que “não existe uma idade paternal particular que subitamente se torne problemática”. Um dos autores do estudo e professor no Departamento de Ciências do Cérebro e Psicológicas na Universidade de Artes e Ciências da Universidade do Indiana, Brian D’Onofrio, sublinha que é impossível responder com exactidão sobre qual a idade mais segura para conceber.

Brian D’Onofrio afirma que os resultados agora revelados “são chocantes”. “As associações específicas com a idade paternal foram muito, muito maiores que o previsto em estudos anteriores. Aliás, descobrimos que uma idade paternal avançada estava associada com um maior risco de vários problemas, como o transtorno do défice de atenção e hiperactividade, tentativas de suicídio e uso de substâncias, enquanto pesquisas tradicionais sugerem que uma idade parental avançada pode ter diminuído a taxa em que ocorrem esses problemas”, sustentou.

O estudo sublinha que ao contrário das mulheres, que nascem com todos os seus óvulos, os homens continuam a produzir esperma durante a vida e cada vez que este se replica existe uma hipótese de ocorrer uma mutação no ADN. “Estudos moleculares têm mostrado, aliás, que o esperma de homens mais velhos sofre maiores mutações genéticas”, reforça a Universidade do Indiana. Os resultados do estudo agora divulgado “são consistentes com a hipótese de que novas mutações genéticas que ocorrem durante a espermatogénese estão casualmente relacionados com a morbidez na criança”.

 

 

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