“Palavra espanhola que designa um canto e uma dança típicos da Andaluzia, provavelmente de origem cigana”, é a descrição de um dicionário para a palavra “flamenco”.
O dicionário enciclopédico revela pouco mais: “Aplica-se aos cantos e danças dos ciganos com diversos resíduos do orientalismo musical andaluz e às suas coisas.”
Morreu nesta semana o guitarrista que universalizou o flamenco, Paco de Lucía. Também compositor e produtor, chamava-se, na verdade, Francisco Sánchez Gómez e era filho de uma portuguesa, Luzia Gomez. De uma família de músicos, foi para homenagear a mãe que escolheu aquele nome artístico.
O flamenco, que começou por ser apenas canto (cante), viria a evoluir na companhia da guitarra clássica, a que se juntariam palmas, adufes e dança. Paco de Lucía misturou-o com jazz, bossa nova e outras sonoridades, num dedilhar que entontecia.
A imprensa falou em “revolucionário da guitarra” e recordou palavras do artista, que em 2004 recebeu o Prémio Príncipe das Astúrias: “O que tentei fazer foi situar-me na tradição e, ao mesmo tempo, procurar noutros territórios, procurar coisas novas para transportar para o flamenco”; “Quando chega o duende da inspiração, tenho a sensação de que me vou, que saio fora de mim, que flutuo no ar.” E não vai sozinho.
Vem à memória um pensamento de Eduardo Lourenço: “O instante em que poderemos ser eternos é o momento em que ouvimos música.”