Espanhola condenada por apologia ao terrorismo no Twitter

Uma "rapariga normal", farta de muitas coisas, que escreve para denunciar que “uma minoria vive às custas da morte, da miséria e da exploração da maioria”.

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Os tweets de Camacho foram considerados "radicais e violentos" Leon Neal/AFP

Alba González Camacho, uma espanhola de 21 anos que se descreve como “uma rapariga muito normal”, foi condenada por “enaltecimento do terrorismo”, na primeira vez que isto acontece em Espanha por comentários escritos no Twitter.

Por trás da acusação estiveram os elogios da jovem aos GRAPO (Grupos de Resistência Antifascista Primeiro de Outubro), uma organização de extrema-esquerda envolvida no assassínio de mais de 80 pessoas durante a transição da ditadura de Franco para a democracia – oficialmente, a organização nunca foi dissolvida, mas as autoridades consideram que perdeu as suas capacidades operacionais no fim da década passada.

“Com o Partido Popular [direita, no poder em Espanha] vemos bem que os GRAPO são indispensáveis”, escreveu a jovem, que no Twitter, onde continua activa e é seguida por 14.700 pessoas, usa o pseudónimo "Loba Vermelha" e se diz “subversiva”, “com o coração mais negro do que a noite mas a alma vermelha como o sangue”. Em Junho de 2012, uma provocação um pouco mais concreta: “Prometo fazer uma tatuagem com o rosto da pessoa que dê um tiro na nuca a Rajoy”.

Actualmente, a imagem de fundo da conta de Twitter (@alcacorazonnegro) de Camacho mostra soldados soviéticos a içar a sua bandeira em Berlim, depois de derrotarem a Alemanha nazi. Já por lá estiveram fotografias dos GRAPO – uma de 44 presos da organização – ou de Che Guevara.

Os juízes espanhóis consideraram que os seus tweets, de “conteúdo ideológico extremamente radical e violento”, violam a Constituição espanhola, onde se proíbe a apologia do terrorismo. Apesar dos GRAPO já não constituírem uma ameaça, “terrorismo é terrorismo e não pode nunca ser glorificado”, defendeu Eduardo Serra, ex-ministro da Defesa.

O advogado de Camacho considera que ela foi um bode expiatório e diz que o caso reflecte a “fina fronteira” entre a liberdade de expressão e as leis antiterrorismo. Condenada a um ano de prisão, a jovem conseguiu que a sentença fosse suspensa por não ter antecedentes criminais. O New York Times fala “na linha nem sempre clara entre rebeldia juvenil e algo mais”

A jovem não quis dar entrevistas a media espanhóis mas aceitou entrar numa troca de emails com o jornal norte-americano, onde diz nunca ter pensado que podia ser condenada: “há tantos disparates na Internet, incluindo coisas bem piores” do que as suas, defende.

“A verdade é que sou uma rapariga muito normal, a quem nunca aconteceu nenhum tipo de problema”, afirma. “Mas se te disser tudo aquilo de que estou farta nunca pararia”, diz Camacho, que vive em Jaén, no Sul de Espanha, e está a estudar para ser assistente social. Camacho diz twittar para denunciar “um sistema no qual uma minoria vive às custas da morte, da miséria e da exploração da maioria”.

Este processo acontece depois de o Governo conservador do PP ter chegado a acordo para fazer votar legislação que criminaliza o uso da Internet para organizar protestos violentos. Processos semelhantes têm acontecido noutros países. Em Janeiro, duas pessoas foram condenadas no Reino Unido por mensagens que ameaçavam uma activista feminista; no mesmo mês, um tribunal federal dos EUA condenou um homem a 16 meses de prisão por ter ameaçado matar o Presidente Barack Obama no Twitter.

Carlos Sáiz Díaz, advogado espanhol ouvido pelo New York Times, diz que este caso “mostra que os tribunais nacionais querem enviar uma mensagem à sociedade, avisar que a partir de agora os abusos serão punidos se forem cometidos através de redes sociais”.

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