Economias dos países periféricos recuperam parte do terreno face ao Norte da Europa

Comissão Europeia estima que crescimento da economia nacional possa atingir 1,3% este ano.

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Comissário europeu defende que, mesmo que o pior da crise tenha ficado "para trás", a retoma permanece "modesta" Foto: Patrícia de Melo Moreira/AFP

A economia portuguesa poderá crescer este ano a um ritmo muito superior ao previsto, acompanhando uma tendência que se manifesta igualmente em vários outros países periféricos da zona euro que começam, assim, a diminuir a distância que os separou nos últimos anos do Norte da Europa.

Segundo a Comissão Europeia, que publicou as suas previsões económicas de Inverno na terça-feira, o crescimento português poderá atingir este ano 1,3%, em vez dos 0,8% esperados em Novembro. A revisão em alta dos valores para este ano resulta do crescimento no quatro trimestre de 2013 "muito superior" ao previsto, justificou Olli Rehn, comissário europeu responsável pelos assuntos económicos e financeiros.

Uma estimativa mais precisa das previsões portuguesas só será conhecida no decurso da avaliação que está em curso à execução do programa de ajustamento económico e financeiro ligado à ajuda externa, avisa Bruxelas. Mesmo assim, Rehn calcula que a revisão em alta tanto em 2013 como em 2014 se situará entre 0,25 e 0,5 pontos percentuais, o que significa que o crescimento deste ano poderá chegar a 1,3%. Para 2015, a Comissão mantém a estimativa anterior de um crescimento de 1,5%, embora este valor também possa ser revisto em alta devido ao efeito de arrastamento da melhoria esperada para 2014.

Bruxelas confirma igualmente que a evolução positiva da economia portuguesa registada nos últimos três trimestres de 2013 se deveu ao "sólido" crescimento do consumo privado e do investimento, que mais que compensou a quebra das exportações.

A Espanha também teve uma revisão em alta face aos valores de Novembro, devendo a sua economia crescer este ano 1% em vez dos 0,5% esperados em Novembro. A melhoria da situação espanhola é, aliás, largamente responsável pela revisão em alta, numa décima, das previsões para o conjunto da zona euro para 1,2% este ano.

Na Grécia, a economia deverá regressar finalmente este ano a terreno positivo depois de cinco anos consecutivos de recessão económica, embora o seu crescimento se deva limitar a uns tímidos 0,6%. Em 2015, porém, a economia deverá crescer 2,9%, o que a colocará entre os melhores valores de toda a zona euro.

A Itália deverá crescer este ano os mesmos 0,6% que Atenas, o que neste último caso representa uma revisão em baixa de uma décima face às estimativas de Novembro. Roma permanece, no entanto, um motivo de preocupação para a zona euro, não só pelo valor abissal da sua dívida pública – 133,7% do PIB previsto para este ano, o segundo pior resultado depois dos 137% da Grécia – como pelas suas dificuldades políticas.

Estes quatro países estiveram em recessão económica, tanto em 2012, como em 2013, quando o resto da Europa já estava a recuperar da pior crise económica desde o fim da II Guerra Mundial. "A actividade progride nos países mais frágeis", congratulou-se Olli Rehn, embora renovando os seus apelos à continuação dos processos de consolidação orçamental e reformas económicas. Para o comissário, aliás, mesmo se "o pior da crise ficou provavelmente para trás" a retoma permanece "modesta" o que  "não pode levar a um relaxamento dos esforços".

Dos 18 países da zona euro, só Chipre, que enfrenta um programa de ajuda draconiano, e a Eslovénia, que tem conseguido evitar ir pelo mesmo caminho, estarão este ano em recessão, de -4,8% e -0,1% respectivamente. Ao invés, a melhor previsão é a da Letónia, recém-chegada ao euro, que deverá crescer 4,2%, seguida da Estónia e Eslováquia, com 2,3%.

Entre as maiores economias, a Alemanha terá um crescimento de 1,8% e a França de 1%. Paris representa, porém, uma nova dor de cabeça para Bruxelas, devido a uma nova derrapagem orçamental que levará o país a falhar novamente a meta da sua redução para menos de 3% do PIB prevista para 2015. Segundo as previsões da Comissão, o défice francês será no próximo ano de 3,9%, apenas menos uma décima que o valor previsto para este ano. O défice de Espanha também voltará a derrapar de 5,8% do PIB este ano para 6,5% no próximo.

Na frente do desemprego, as divergências permanecem abissais entre os países do euro. Enquanto a Áustria e Alemanha terão este ano taxas de desemprego de 4,8% e de 5,2% da população activa, respectivamente, o número de desempregados será de 26% na Grécia e de 25,7% em Espanha. Em Portugal, segundo as estimativas preliminares de Bruxelas, o desemprego será de 16,8% este ano e menos três décimas em 2015, que terá o mesmo valor de 2013. 

Fragilidades portuguesas

O relatório afirma que “os indicadores económicos [para Portugal] do último trimestre de 2013 são consistentes com uma nova estabilização da recuperação económica”.  E diz, em relação ao mercado de trabalho, que a recente subida do número de empregos “não é fundamentalmente um fenómeno sazonal”, antecipando que este indicador continue a crescer “a um ritmo moderado”. 

Apesar das revisões em alta que deverão ser feitas no final da 11ª avaliação, a Comissão Europeia deixa no relatório publicado terça-feira alguns avisos em relação às fragilidades da situação económica em Portugal. “Embora o cenário base implique que a recuperação esteja cada vez mais enraizada, o ritmo da retoma continua a depender dos desenvolvimentos da zona euro e, em particular, dos principais parceiros de Portugal”, afirma o relatório.

Outra causa para preocupação são os elevados níveis de endividamento do sector privado, que podem pesar no consumo e no investimento. Bruxelas afirma ainda que “Portugal continua vulnerável a uma deterioração significativa do sentimento nos mercados financeiros, ligado, quer às incertezas relacionadas com a implementação das políticas pelas autoridades portuguesas, quer a um ambiente externo mais fraco”.

Os técnicos da Comissão assinalam ainda a existência de riscos no cumprimento dos objectivos orçamentais, mas consideram que estes são possíveis de atingir em 2014, caso Portugal avance com as medidas de consolidação de 1,2% do PIB que prometeu apresentar no âmbito do processo de reforma do Estado a aprovar até ao final de Março.

Ainda assim, estas reticências são apresentadas pela Comissão Europeia de forma bastante mais suave do que as dúvidas colocadas pelo Fundo Monetário Internacional sobre a força da retoma da economia portuguesa. No relatório da décima avaliação do programa português, a entidade liderada por Christine Lagarde defendeu que o crescimento das exportações poderia não ser sustentável, uma vez que estava demasiado baseado nas vendas de combustíveis e no turismo, afirmando ainda que as reformas estruturais na economia poderiam ainda não ser suficientemente fortes para garantir taxas de crescimento elevadas a prazo na economia.

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