Ajuda internacional à Ucrânia não será imediata

"Há três dadores potenciais: a União Europeia, o FMI e, claro, a Federação Russa e o problema é que é preciso negociar as condições, mas com quem? Ninguém vai assinar um cheque em branco", disse o encarregado das relações com a Europa de Leste do governo alemão, Gernot Erler.

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O Presidente interino Olexandr Turchinov, com a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton AFP

Os potenciais doadores, com a União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) à cabeça, abstiveram-se esta segunda-feira de se pronunciarem sobre as modalidades de um programa de ajuda à Ucrânia, num quadro político ainda incerto.

O ministro interino das Finanças, Iuri Kolobov, avaliou em 35 mil milhões de dólares (perto de 25,5 mil milhões de euros, ao câmbio actual) nos próximos dois anos as necessidades de ajuda financeira da Ucrânia e pediu a realização de uma conferência internacional de doadores.

Até agora não foi apresentada apresentado qualquer pedido de ajuda ao FMI, que espera a formação de um Executivo.

"Há três dadores potenciais: a União Europeia, o FMI e, claro, a Federação Russa. O problema é que é preciso negociar as condições, mas com quem? Ninguém vai assinar um cheque em branco", disse o encarregado das relações com a Europa de Leste do Governo alemão, Gernot Erler.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton e [o comissário europeu de Assuntos Económicos] Olli Rehn reuniram-se com o FMI, o Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, o Banco Europeu de Investimento e com os parceiros chave da Ucrânia, adiantou o porta-voz da Comissão Europeia, Olivier Bailly, acrescentando que é "muito cedo para definir uma opção".

Também nesta segunda-feira, o secretário norte-americano do Tesouro, Jacob Lew, e a directora geral do FMI, Christine Lagarde, "concordaram sobre o facto de que a Ucrânia tem necessidade de uma assistência mulilateral e bilateral para adoptar um programa de reformas e que, se um governo plenamente constituído na Ucrânia fizer o pedido, o FMI contribuirá com financiamento e aconselhamento económico", disse um responsável do Tesouro dos Estados Unidos.

A Ucrânia tem vivido uma situação de grande dependência do vizinho russo. Afectada por uma forte recessão, assinou na Primavera de 2010 uma acordo que prevê a manutenção de uma base naval russa na Crimeia, Mar Negro, até 2042, a troco de um desconto no preço do gás fornecido por Moscovo. No entanto, paga pelo gás russo mais do que os restantes clientes europeus da Gazprom. 

"No fundo, o único modelo de desenvolvimento de Viktor Ianukovich durante a sua presidência foi o refinanciamento que consiste em injectar liquidez, mas não na intervenção no aparelho de produção ucraniano", disse Thomas Gomart, director de desenvolvimento estratégico do Instituto Francês de Relações Internacionais.

"As respostas da Rússia são em dinheiro líquido, são rápidas", enquanto as propostas da União Europeia no quadro de associação implicam reformas estruturais e condições políticas "para montantes muito inferiores", disse.

Nas negociações sobre o acordo de associação, a UE propôs 610 milhões de de euros de ajuda financeira à Ucrânia. Mas em Dezembro, após o fracasso do acordo, Kiev quantificou em 20 mil milhões de euros a ajuda financeira de que o país precisava. A Rússia propôs um crédito de 15 mil milhões de dólares [menos 11 mil milhões de euros] acompanhado de uma redução de 30% no preço do gás. "Não estamos na mesmo ordem de grandeza", observou Gomart.

Um entendimento com o FMI "não se fará sem a aceitação de reformas profundas e com um custo social e extremamente elevado", disse, notando que as novas autoridades são "oriundas da Rada [Parlamento], o lugar por excelência da corrupção ucraniana".

"Essa hipótese é muito pouco provável", conclui, referindo-se a uma ajuda do FMI e da UE: "As desilusões arriscam-se a ser rápidas e a situação a continuar inflamável na Ucrânia". Por seu lado, "Moscovo está muito silencioso e espera a sua hora para o regresso", além de que não deixará de recordar que a Rússia "continua a ser o principal parceiro comercial da Ucrânia".

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