A África tão perto e tão longe do Brasil com curadoria de António Pinto Ribeiro

O programador será responsável pela programação especial dedicada à África no novo Museu de Arte do Rio.

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Museu de Arte do Rio Nelson Garrido
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O cartaz do evento

Que África é esta que está tão presente e, ao mesmo tempo, tão escondida no Brasil? Que África é esta que os brasileiros ainda não conhecem, apesar de estar enraizada na sua cultura? O programador português António Pinto Ribeiro propõe-se responder às perguntas, estabelecendo a ponte entre o Brasil e o continente africano a convite do MAR — Museu de Arte do Rio, no Rio de Janeiro.

Em Março, o MAR, o museu brasileiro que foi inaugurado no ano passado, vai dedicar uma programação especial ao continente africano e às suas relações com o Brasil nas mais variadas áreas, das letras ao cinema. África Hoje é o nome do ciclo, que tem uma programação que acontecerá também em Agosto e Novembro, com conferências, palestras, seminários, mostras de cinema e várias actividades educativas em colaboração com algumas universidades e organizações alternativas vizinhas do Museu de Arte do Rio. O objectivo é sempre dar a conhecer aquilo que se faz hoje no continente que fica do outro lado do oceano.

Para António Pinto Ribeiro, que foi escolhido pela direcção do MAR pelo seu reconhecido trabalho como comissário do programa Próximo Futuro da Fundação Gulbenkian, perdura nos brasileiros um imaginário africano cheio de lugares-comuns e preconceitos, devido à forte presença afrodescendente no país com origem na escravatura, que não corresponde mais à realidade. “O que existe nos brasileiros, de uma forma geral, é um eixo muito forte ‘Rio de Janeiro-São Paulo’ e este é um eixo branco”, diz Pinto Ribeiro, explicando que “este eixo branco lida com uma imagem da negritude que é uma imagem dos afrodescendentes”.

“Os brasileiros têm alguns problemas em relação a África, no sentido em que não a percebem, não entendem a África contemporânea”, diz ao PÚBLICO Pinto Ribeiro. O conhecimento que têm de África corresponde “a um imaginário de narrativas completamente ultrapassadas, narrativas que vêm do século XIX”, dificultando a relação do Brasil com a “negritude contemporânea”. 

É para mudar esta imagem e mostrar que em África acontece muito mais do que se imagina em áreas como a literatura ou as ciências políticas, que Pinto Ribeiro vai levar ao Brasil Lilian Thuram, o futebolista mais internacional da história da selecção francesa e que é também um activista pela igualdade e contra o racismo. Será Thuram a inaugurar, no dia 11 de Março, o programa África Hoje com uma aula na Universidade das Quebradas, com um projecto que liga o mundo académico à produção cultural das favelas.

Porque não é possível falar de África sem falar de racismo, Pinto Ribeiro conta com Lilian Thuram, “um homem muito popular e muito querido da juventude e das comunidades”, para lançar o debate no Brasil. Para Pinto Ribeiro, “de formas mais encapotadas ou mais abertas, há problemas complexos no que diz respeito ao racismo dos quais os brasileiros têm grande consciência”, aponta o curador, que considera importante que se fale abertamente deste tema.

É por isso também que algumas das palestras e conferências vão ser transmitidas em várias escolas do Brasil. Nessa semana, em Março, haverá também “um grande ciclo de cinema”, que explora o movimento “fundador do cinema africano” e que arranca no dia 11 com Afrique Sur Seine, de Paulin Soumanou Vieyra, seguindo-se Casa de Lava, de Pedro Costa (dia 12), Orfeu Negro, de Marcel Camus (dia 13), e Kuxa Kanema, de Margarida Cardoso (dia 14).

África Hoje volta depois ao Museu em Agosto e, mais tarde, em Novembro, com nova programação. No final, em 2015, promete-se uma grande exposição sobre o tema, que ainda não está definida.  

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