Mineral com 4,4 mil milhões de anos é o mais antigo pedaço de crosta da Terra

Um pequeno pedaço do mineral zircão, descoberto na Austrália, mostra que a vida na Terra pode ter aparecido há mais tempo do que o esperado.

Foto
O mineral de zircão tem cerca do dobro do tamanho do diâmetro de um cabelo humano John Valley/Universidade de Wisconsin

Uma equipa de cientistas determinou que um pequeno pedaço do mineral zircão tinha 4,4 mil milhões de anos de idade. O objecto, encontrado num terreno de ovelhas, na Região Oeste da Austrália, é o mais antigo pedaço de crosta do nosso planeta jamais encontrado, mostra um artigo publicado neste domingo na revista Nature Geoscience.

Segundo a equipa, esta descoberta indica que a Terra formou a crosta terrestre pouco tempo depois da sua origem, há 4,54 mil milhões de anos, e esta pequena gema é um vestígio dessa crosta primordial. A descoberta mostra que, no início de vida do nosso planeta, a Terra não seria um local tão terrível como os cientistas tendem a pensar, defende John Valley, professor e investigador em geociências da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, e um dos autores do artigo.<_o3a_p>

O zircão é um silicato do metal zircónio. Os vários minerais analisados pela equipa de John Valley foram extraídos de um afloramento rochoso na região montanhosa de Jack Hills, no Oeste da Austrália. Os cristais têm apenas entre 200 e 400 micrómetros de tamanho, cerca do dobro do diâmetro de um cabelo humano. <_o3a_p>

“Os [cristais] de zircão podem ser grandes e muito bonitos. Mas aqueles com que nós trabalhamos são pequenos e não são especialmente atraentes, excepto para os geólogos”, considerou John Valley, citado pela Reuters. “Se se segurar na palma da mão e com uma boa visão, pode-se vê-lo sem uma lupa.”<_o3a_p>

Para determinar a idade do fragmento de zircão, os cientistas utilizaram primeiro uma técnica de datação muito comum, baseada na determinação do tempo de decaimento radioactivo do urânio para o chumbo. <_o3a_p>

No zircão há traços de urânio que, ao longo de milhares de milhões de anos, se transformam em isótopos de chumbo, que são átomos mais estáveis. A partir da proporção de isótopos de chumbo em relação aos de urânio, os cientistas podem calcular a data de formação dos minerais. 

No entanto, há cientistas que contestam as datações feitas com esta técnica, devido à deslocação de parte destes elementos dentro do zircão. Isto poderá acontecer porque, quando se dá o decaimento radioactivo, são emitidas radiações que podem danificar a estrutura do mineral. Nesse processo, parte dos núcleos de chumbo e de urânio podem migrar. Milhares de milhões de anos mais tarde, quando os cientistas vão analisar os átomos de urânio e de chumbo numa pequeníssima parte do mineral, podem estar a fazer cálculos a partir de um número incompleto dos átomos, já que parte deles pode ter migrado. Um cálculo tendo como base um número incompleto de átomos, para se obter a proporção de isótopos de chumbo em relação a isótopos de urânio, dará uma datação errada do mineral.<_o3a_p>

Para resolver este problema, a equipa de John Valley utilizou uma segunda técnica. Os investigadores fizeram uma tomografia ao mineral onde observaram a distribuição dos átomos de urânio e chumbo. Desta forma, verificaram que a análise feita previamente, do decaimento radioactivo, tinha em conta todos os átomos necessários para medir a idade do mineral. Com isso confirmaram que o pedaço de zircão tinha 4,4 mil milhões de anos de idade.<_o3a_p>

Planeta frio<_o3a_p>

Esta descoberta mostra que, em apenas 100 milhões de anos, um período de tempo relativamente curto, a Terra passou de uma bola de rocha fundida para uma bola com uma crosta. Além disso, o fragmento analisado surgiu apenas 160 milhões de anos depois da formação do Sistema Solar.

Segundo Valley, a descoberta também apoia a teoria da existência de uma “Terra primordial fria”, onde as temperaturas eram suficientemente baixas para haver um oceano, e talvez até vida. “Uma das questões em que estamos interessados é saber quando é que a Terra se tornou habitável para a vida. Quando é que arrefeceu o suficiente para a vida poder emergir?”, questionou o cientista.<_o3a_p>

Por isso, a descoberta do cristal de zircão sugere que o planeta talvez tenha sido capaz de sustentar vida microbiana há 4,3 mil milhões de anos, segundo o investigador: “Não temos nenhuma prova de que a vida tenha existido nessa altura. Não temos nenhuma prova de que não tenha existido. Mas não há razão para que a vida não tenha podido existir na Terra há 4,3 mil milhões de anos.” O registo fóssil mais antigo da existência de vida são os estromatólitos (marcas deixadas nas rochas por antigas bactérias), produzidos há cerca de 3,4 mil milhões de anos.<_o3a_p>

Sugerir correcção
Comentar