Kiev inicia aproximação à UE, Moscovo retira o seu embaixador

Chefe da diplomacia europeia na capital ucraniana para discurtir ajuda, numa altura em que se teme a desintegração do país.

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Baz Ratner/Reuters

A Rússia convocou o embaixador em Kiev “para consultas”, pouco depois de o Presidente interino da Ucrânia ter anunciado na televisão que as novas autoridades querem retomar o caminho de aproximação à União Europeia, interrompido em Novembro por Viktor Ianukovich, agora destituído.

A iniciativa de Moscovo é a primeira resposta ao afastamento, no sábado, de Ianukovich, com quem o Presidente russo, Vladimir Putin, assinou em Dezembro um acordo de cooperação económica que canalizaria para os cofres ucranianos 15 mil milhões de dólares e que está agora em dúvida.

O Governo russo diz ter chamado o seu embaixador face à “deterioração da situação” em Kiev, mas a saída do diplomata foi conhecida pouco depois de o ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, acusar a oposição ucraniana de ter “tomado o poder” pela força, ignorando o acordo negociado na véspera pela União Europeia – acordo que Moscovo não subscreveu.

Na sua primeira declaração ao país, o Presidente nomeado pelo Parlamento disse que a prioridade é dar posse a um “governo do povo” e sublinhou que, depois dos três meses de revolta, “a Ucrânia tem de voltar à família das nações europeias”. Oleksander Turchinov, aliado da antiga primeira-ministra Iulia Timochenko, acrescentou que a nova liderança deseja manter com a Rússia uma relação “nova, equitativa e de boa vizinhança, que reconheça e tenha em conta a opção europeia da Ucrânia”.

A Kiev chega nesta segunda-feira a chefe da diplomacia da União Europeia, numa deslocação em que estarão em cima da mesa tanto medidas de apoio à debilitada economia ucraniana, como apelos para que o governo interino seja o mais abrangente possível, numa altura em que é ainda incerto se o Leste do país – região industrial de maioria russófona, com profundas ligações a Moscovo – aceitará as decisões tomadas pelo Parlamento.

“A França, juntamente com os parceiros europeus, apela à preservação da unidade e integridade da Ucrânia e pede à população que evite a violência”, apelou o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius.

O Reino Unido e a Alemanha anunciaram estar disponíveis para reforçar a ajuda económica a Kiev, enquanto os Estados Unidos dizem estar dispostos a contribuir no âmbito de um empréstimo do Fundo Monetário Internacional. Os cofres dos dois lados do Atlântico estão pouco abonados, escreveu a Reuters, “mas o desejo de evitar a instabilidade e apoiar aquilo que os ocidentais vêem como um movimento democrático sob ameaça do Diktat da Rússia podem servir para abrir os cordões à bolsa, pelo menos até às eleições”.

Num comunicado divulgado nesta segunda-feira, o actual responsável pelo Ministério das Finanças diz que a economia ucraniana precisa de 35 mil milhões de dólares até ao final de 2015 para financiar as suas obrigações e propôs a realização de "uma grande conferência internacional de doadores", juntando entre outros os EUA, a UE, o FMI, "a fim de obter os fundos para a modernização e as reformas" do país.

Em simultâneo, tanto Washington como a UE vieram desaconselhar a Rússia contra qualquer tentativa de intervenção militar no Leste da Ucrânia. “Seria um grave erro”, afirmou Susan Rice, conselheira de segurança do Presidente norte-americano.

Putin, que domingo presidiu ao encerramento dos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, ainda não se pronunciou sobre os acontecimentos em Kiev, mas um assessor disse na semana passada ao Financial Times que Moscovo poderia ir em defesa da Crimeia – região autónoma onde a população de origem russa é maioritária e onde está fundeada a Frota do Mar Negro –, se “a Ucrânia se desintegrar”.

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