Ianukovich anuncia "acordo de princípio para fim da crise política"

Gabinete do Presidente diz que nas próximas horas vai ser assinado um documento com os representantes da União Europeia e da Rússia e com os líderes da oposição.

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A violência dos últimos três dias fez pelo menos 77 mortos, segundo o Ministério do Interior Iannis Behrakis/reuters
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A Praça da Independência na manhã desta sexta-feira Vasily Fedosenko/Reuters
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Sandro Maddalena/afp

O Presidente da Ucrânia, Viktor Ianukovich, anunciou nesta madrugada que chegou a um acordo de princípio para o "fim da crise política", mas não avançou pormenores. O líder da bancada parlamentar do seu partido diz que o compromisso prevê uma revisão constitucional em Setembro e eleições antecipadas em Dezembro.

Ao fim de nove horas de negociações – e depois de uma outra reunião de cinco horas, na manhã de quinta-feira –, os ministros dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, França e Polónia saíram da sala de reuniões sem fazer quaisquer declarações e nenhum dos líderes da oposição comentou o anúncio do gabinete de Ianukovich.

Mais tarde, já em Pequim, na China, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, disse que existia um compromisso para que nenhuma das partes falasse sobre o acordo até ao fim da manhã. "A oposição, em particular, queria falar com os seus apoiantes, o que é compreensível", disse Fabius à rádio Europe 1.

O Presidente Ianukovich não esperou pelo fim da manhã, mas também não avançou pormenores. "Terminaram as negociações entre o Presidente da Ucrânia, Viktor Ianukovich, os líderes da oposição e os representantes da União Europeia e da Rússia com vista à resolução da crise política", lê-se no site da Presidência ucraniana, numa nota publicada às 8h23 (6h23 em Portugal continental).

"As partes chegaram a um compromisso para assinarem o Acordo sobre a Resolução da Crise. A assinatura do documento está marcada para as 12h [10h em Portugal continental] na Administração Presidencial", avança o gabinete de Ianukovich.

Por volta da mesma hora em que a Presidência ucraniana publicava o comunicado, o ministro dos Negócios Estrangeiros polaco, Radoslav Sikorski, dava conta no Twitter do fim da reunião, mas não adiantava pormenores. "Após negociações durante toda a noite, as conversações terminaram às 7h20 [5h20 em Portugal continental]."

Dos outros dois ministros presentes – o francês Laurent Fabius e o alemão Frank-Walter Steinmeier –, nem uma palavra, à semelhança do que aconteceu com Vitali Klitschko e Arseni Iatseniuk, os principais líderes da oposição ucraniana.

Se se confirmarem as declarações do líder da bancada parlamentar do Partido das Regiões (no poder), o acordo poderá agradar à oposição – pelo menos à oposição que tem negociado com o Presidente Ianukovich. Segundo Oleksandr Iefremov, o acordo de princípios prevê uma revisão da Constituição em Setembro e eleições presidenciais antecipadas em Dezembro.

O primeiro-ministro da Polónia salientou que não há ainda qualquer acordo, mas sim "um projecto de acordo". "A assinatura de um compromisso pode ser um início, mas eu teria cautelas em antecipar o fim do conflito", disse Donald Tusk aos jornalistas no Parlamento polaco.

Mas a notícia de um possível acordo – ou um princípio de acordo – não acalmou por completo a situação no país. Nas ruas de Kiev foram ouvidos tiros na manhã desta sexta-feira, disparados por alguns manifestantes contra a polícia, segundo um comunicado da própria polícia. "Os participantes na desordem abriram fogo contra agentes da polícia e tentaram romper o cordão policial, em direcção ao edifício do Parlamento", lê-se no comunicado, citado pela agência Reuters.

Também no Parlamento voltaram a registar-se cenas de pancadaria entre deputados – tudo começou quando o presidente do Parlamento, Volodimir Ribak, aliado de Viktor Ianukovich, adiou a discussão com vista à votação de uma lei que reduziria os poderes do Presidente.

O vice-chefe do Estado-maior das Forças Armadas da Ucrânia renunciou nesta sexta-feira ao cargo, contra a "tentativa de envolver os militares no conflito civil" no país. "Decidi apresentar a minha demissão para evitar uma escalada da violência", disse Iuri Doumanski.

O n.º 2 das Forças Armadas ucranianas demite-se dois dias depois de o Presidente Viktor Ianukovich ter demitido o chefe do Estado-maior, Volodimir Zamana, que se recusou a enviar os militares para o meio do conflito na quarta-feira.

Negociações "muito difíceis"
Pelo que se foi sabendo ao longo da noite através de fontes anónimas citadas pelas agências noticiosas, as negociações foram "muito difíceis", chegando mesmo a ser anunciada uma interrupção, com regresso marcado para o meio-dia.

O primeiro-ministro da Polónia, Donald Tusk, disse na quinta-feira que o Presidente Ianukovich mostrou abertura para marcar eleições antecipadas ainda este ano, mas até ao momento não há nada de concreto. Uma conselheira de Ianukovich, Hanna Herman, disse que o Presidente estava disposto a fazer concessões e que "as forças da paz" tinham derrotado os "falcões" entre os conselheiros do Presidente.

Há também notícias de uma "saída em massa" de Kiev de deputados do Partido das Regiões, no poder. A estação de televisão ZIK TV, com sede em Lviv, avança que funcionários do aeroporto de Zhuliani, na capital, dão conta da saída de um número anormalmente elevado de aviões fretados e da chegada de "carros de luxo" ao terminal VIP.

A noite foi de relativa calma na Praça da Independência, palco na quinta-feira do maior banho de sangue desde que começaram as manifestações contra o Presidente Viktor Ianukovich, em Novembro passado, após o anúncio de que a Ucrânia não iria assinar um acordo com a União Europeia, voltando-se para a Rússia.

Os confrontos mais violentos começaram na terça-feira, quando os manifestantes tentaram furar o cordão policial para se aproximarem do Parlamento, onde iriam exigir mais uma vez a marcação de eleições presidenciais antecipadas e o regresso à Constituição de 2004, que limitava os poderes do Presidente. Entre terça e quarta-feira, pelo menos 28 pessoas morreram, mas a explosão de violência na quinta-feira de manhã elevou o balanço de vítimas mortais para 77, de acordo com os números do Ministério da Saúde – do lado da oposição fala-se em mais de 100 mortos. Outras 577 pessoas ficaram feridas.

Para além dos esforços diplomáticos da União Europeia, e do anúncio da aplicação de sanções aos "responsáveis pela violência", os EUA também pressionaram o Presidente ucraniano. O vice-presidente dos EUA, Joe Biden, transmitiu a Viktor Ianukovich que Washington "condena a violência contra civis em Kiev".

"O vice-presidente deixou claro que os Estados Unidos estão preparados para sancionar os responsáveis pela violência", lê-se no comunicado publicado no site da Casa Branca, em que a Administração Obama insta também Ianukovich a "seguir um caminho que dê respostas às legítimas aspirações do povo ucraniano".

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