Endividamento português ainda coloca o país à mercê dos sentimentos do mercado

FMI diz que a conjuntura melhorou nos últimos meses, mas continua a identificar riscos.

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Troika em Lisboa

Apesar de assinalar a melhoria registada na conjuntura económica e orçamental em Portugal dos últimos meses, o Fundo Monetário Internacional (FMI) continua preocupado com os elevados níveis de endividamento e avisa que o país continua à mercê de mudanças de sentimento nos mercados.

No relatório da décima avaliação ao programa português publicado esta quarta-feira, o FMI dá uma nota positiva à forma como Portugal tem vindo a implementar as medidas acordadas e destaca que “o cenário de curto prazo melhorou”. “Uma procura interna mais forte está a apoiar uma recuperação na actividade e um menor desemprego”, afirma o Fundo, que lembra ainda a descida verificada nas taxas de juro da dívida pública que tem permitido a realização de novas emissões de longo prazo.

No entanto, a análise do FMI ao programa português continua a apontar para a existência de problemas e de ameaças.  O desemprego, dizem os responsáveis da entidade sedeada em Washington, “permanece a níveis inaceitáveis”, ao mesmo tempo que o nível de endividamento ensombra as perspectivas de crescimento económico futuro. “O endividamento alto das famílias e das empresas vai continuar a funcionar como um travão para o consumo e o investimento”, avisa, salientando igualmente que a dívida pública e externa de Portugal continuam a ser uma preocupação.

É por isso que, deixando um aviso em relação ao que pode vir a ser a tentativa de regresso aos mercados de Portugal no final do programa em Maio, o FMI diz que “com os seus elevados rácios de dívida e grandes necessidades de financiamento, Portugal continua susceptível a mudanças abruptas no sentimento" nos mercados.

Subir Lall, o chefe da missão do FMI em Portugal reforça essas preocupações num texto colocado esta quarta-feira no blogue do Fundo. Lall diz que "a dívida das empresas públicas e das empresas privadas não financeiras – de quase 129% e 255%, respectivamente – continua a ser muito elevada" e que "perante uma dívida tão alta, é evidente que será necessário uma consolidação orçamental ainda maior e a desalavancagem do sector privado". "Talvez mais importante ainda, a redução desta carga exige um crescimento elevado e sustentado", defende o responsável do FMI.

Outro risco que o FMI volta a repetir é o de novos chumbos de medidas por parte do Tribunal Constitucional. O Fundo diz que a cada vez maior frequência de chumbos do tribunal “complicam de forma significativa os esforços das autoridades para direccionar a consolidação orçamental para medidas do lado da despesa, pondo em causa a qualidade do ajustamento orçamental e introduzindo uma elevada incerteza em relação às políticas seguidas, com um impacto negativo no emprego e no emprego”.

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