Rendeiro assume responsabilidade das decisões e “iliba” outros arguidos no caso BPP

Banqueiro e principal arguido no processo diz que era ele o responsável máximo pelas decisões de investimento que lesaram clientes em milhões de euros.

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João Rendeiro liderou o BPP enric vives-rubio

O fundador do Banco Privado Português (BPP), João Rendeiro, assegurou nesta terça-feira em tribunal que foi o responsável máximo pelas decisões de investimento da Privado Financeiras, minimizando o papel desempenhado pelos arguidos Salvador Fezas Vital e Paulo Guichard.

"Assumo a responsabilidade principal das decisões tomadas nesta matéria", afirmou Rendeiro perante o colectivo de juízes liderado por Nuno Salpico, que conduz o julgamento do caso Privado Financeiras.

O ex-banqueiro tinha sido questionado precisamente pelos advogados de defesa dos outros dois arguidos (Fezas Vital e Guichard) acerca da participação destes nas decisões de investimento dos veículos de investimento (private equity] do universo BPP.

"A acção [de Fezas Vital] era extremamente reduzida no private equity. Tinha uma posição de solidariedade institucional" já que era administrador do banco, revelou Rendeiro, confrontado com a questão lançada pelo advogado de Fezas Vital. E reforçou: "Se houvesse culpas neste processo, repito, se houvesse, o Dr. Salvador Fezas Vital não teria culpas neste processo".

À boleia da questão colocada pelo seu colega, o advogado de Paulo Guichard também perguntou a Rendeiro qual o papel que o seu constituinte tinha ao nível da tomada de decisões de investimento.

"No que diz respeito a decisões estratégicas, eu assumo a responsabilidade", frisou o antigo presidente do BPP. "Mas não posso assumir aquilo que os private bankers diziam ou não aos clientes", vincou, assegurando que nunca lhes deu instruções para ocultarem informações aos clientes da Privado Financeiras.

Ainda sobre o papel de Paulo Guichard no BPP e, mais especificamente, na Privado Financeiras, Rendeiro realçou que o responsável "não era também uma pessoa da banca", apontando para a sua carreira no Grupo Amorim.

"Era uma pessoa da área comercial e não da banca técnica", sublinhou, ainda que assinalando que Guichard "teria certamente alguma influência" no processo de tomada de decisões, ao nível do aconselhamento.

O julgamento de três ex-gestores do BPP, entre os quais o fundador e presidente João Rendeiro, a que se somam Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital, no âmbito do caso Privado Financeiras, arrancou na semana passada, nas Varas Criminais em Lisboa.

Enquanto decorre a investigação do processo principal do caso BPP, relacionado com a primeira intervenção das autoridades no banco, em 2008, e que incide sobre vários aspectos ligados à gestão, aos clientes e ao fisco, avançou este processo-crime paralelo relacionado com o veículo criado no universo BPP para investir especificamente em acções do Banco Comercial Português (BCP).

Os investidores da Privado Financeiras, entre os quais Francisco Pinto Balsemão, Stefano Saviotti e Joaquim Coimbra, terão sido lesados em mais de 40 milhões de euros com os investimentos feitos pelo veículo, que apostou exclusivamente nas acções do BCP, que viriam a desvalorizar drasticamente.

Os arguidos, João Rendeiro, Paulo Guichard e Salvador Fezas Vital, são acusados pelo Ministério Público de burla qualificada em co-autoria.

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