Associação Precários Inflexíveis lança inquérito para contar fuga de cérebros

Associação de Combate à Precariedade cria inquérito para avaliar a precariedade dos cientistas em Portugal. Questionário dirige-se a bolseiros de investigação, professores universitários, estagiários e técnicos.

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Manifestação de bolseiros em Lisboa Daniel Rocha (arquivo)

A Associação de Combate à Precariedade – Precários Inflexíveis (PI) lançou um inquérito online dirigido à comunidade científica para obter números sobre o peso da precaridade no sistema científico português e avaliar, entre outros aspectos, o número de pessoas que está a pensar emigrar ou que já deixou o país.

Segundo o site dos PI, a motivação para criar este inquérito anónimo, disponível desde a última quarta-feira, deve-se às declarações de Miguel Seabra, presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), numa entrevista ao PÚBLICO em Janeiro, em que referiu as dificuldades deste tipo de contabilização. “Acompanhamos razoavelmente as pessoas que financiamos, mas uma pessoa deixa de ser financiada pela FCT por muitas razões: morreu, adoeceu, desistiu, foi-se embora, porque não tem oportunidades. Isso põe-nos dificuldades”, disse então Miguel Seabra.

“Este interesse dos actuais decisores políticos em esconder a precariedade no trabalho científico e a emigração que esta provoca merece uma resposta”, lê-se no site dos precários.

O questionário é dirigido a todos os que trabalham em ciência e tecnologia: investigadores com bolsa ou com contrato, professores das universidades, estagiários que só têm a licenciatura, bolseiros de doutoramento, técnicos que apoiam na investigação científica e bolseiros que tratam das questões administrativas nos laboratórios. “Só assim podemos desconstruir a demagogia do Governo, que obstina em relativizar os cortes que levam à destruição da investigação e do país, expulsando centenas de investigadores para o estrangeiro, onde o seu trabalho é reconhecido.”

Os PI ainda não decidiram até quando é que o inquérito vai estar disponível para ser respondido. “Julgamos que nas próximas duas semanas já teremos respostas suficientes para retratar fielmente o que se passa”, disse ao PÚBLICO Hugo Evangelista, do Grupo de Bolseiros da associação. Este biólogo de formação referiu que, até ao final de quinta-feira, já tinham respondido cerca de 900 pessoas. “Uma esmagadora maioria trabalha com vínculos precários”, disse Hugo Evangelista, com base nesses primeiros resultados. “Uma maioria absoluta, em toda a sua vida de investigação, nunca teve um vínculo laboral.”

Até agora, nunca foi feita uma avaliação geral e sistemática quer da situação laboral dos cientistas em Portugal quer da sua emigração, geralmente designada por fuga de cérebros.

Qual é a importância de participar neste inquérito? “É uma forma da comunidade desconstruir esta ideia demagógica do Governo de que é difícil medir a fuga de cérebros, mostrando que o desinvestimento em ciência tem um impacto muito sério”, responde Hugo Evangelista.

Para a semana, os PI irão lançar outro inquérito às instituições de ciência, para avaliar o impacto da política científica do Governo de Pedro Passos Coelho e Paulo Portas.
 
Flash mob no sábado
Desde meados de Janeiro, quando se souberam os resultados das candidaturas a bolsas individuais de doutoramento e pós-doutoramento do concurso da FCT de 2013, que se instalou um mal-estar na comunidade científica. Além de um corte brutal destas bolsas do concurso de 2012 para o de 2013 que chocou professores universitários, investigadores e bolseiros, houve ainda críticas dos painéis de avaliação do concurso, que lançaram suspeitas sobre a forma como decorreu a avaliação do concurso da FCT.

Desde então, cientistas, associações de bolseiros e investigadores, reitores das universidades, o Conselho dos Laboratórios Associados (uma rede de 26 laboratórios) e até o próprio Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (órgão de 20 cientistas criado pelo primeiro-ministro que dá pareceres sobre várias questões da política científica) criticaram as políticas de ciência do Governo. Em Lisboa, uma manifestação juntou várias centenas de bolseiros e elementos da comunidade científica.

Entretanto, no próximo sábado, dia 15 de Fevereiro, haverá três flash mobs às 15h em locais diferentes do país: na Praça da República, em Braga; na Praça dos Leões, no Porto; e no Largo de Camões, em Lisboa. Estas aglomerações instantâneas, dinamizadas no Facebook pelo grupo Sem Ciência o Mundo Pára, têm o objectivo de “demonstrar o peso que o mundo académico tem na sociedade em geral”, lê-se na página do grupo no Facebook. A proposta, na flash mobs, é as pessoas que estiverem ali se imobilizem durante três minutos. Depois seguem o seu caminho. Haverá um sinal para dar início à imobilização.

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