Ministro da Defesa admitiu que não saber da pasta facilita reformas, afirmou Garcia Leandro

Aguiar-Branco negou, em comunicado, ter proferido "a frase que bombasticamente lhe é imputada".

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Tenente- general Garcia Leandro expressa críticas duras à actual governação Enric Vives-Rubio

O ministro da Defesa Nacional, José Pedro Aguiar-Branco, admitiu que o não conhecimento dos problemas da pasta que tutela é uma condição que propicia o avanço das reformas no sector, afirmou o tenente- general Garcia Leandro.

Em entrevista esta manhã à Antena 1, o presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) revelou o teor de uma conversa, em 2011, com Aguiar-Branco. “Se fosse ministro da Justiça era mais fácil (…) mas ao mesmo tempo é muito bom, porque eu não percebendo nada disto tenho mais capacidade para fazer reformas”. Este foi o relato da conversa mantida há três anos com Aguiar-Branco que o antigo governador de Macau fez esta manhã.

Em comunicado, José Pedro Aguiar-Branco negou as afirmações que lhe foram imputadas. “O ministro da Defesa Nacional teve o prazer da sua [Garcia Leandro] companhia uma única vez ao longo do mandato e em momento algum foi proferida a frase que bombasticamente lhe é imputada ou as restantes considerações relatadas.”

Entre essas considerações está a forma como o Governo de Pedro Passos Coelho aborda as questões das Forças Armadas. Garcia Leandro considerou a gestão deficiente. A acção do ministro da Defesa foi sintetizada numa curta expressão: “Falha em tudo.” Quanto às reformas para as Forças Armadas, o antigo vice-chefe do Estado-Maior do Exército classifica-as como “tipo tsunami”, embora reconheça que têm tido o apoio das chefias militares.

“O ministro da Defesa Nacional reconhece não ter sido possível acomodar, no processo de reforma em curso, as muitas vontades do senhor tenente-general, mas lembra de que não é ministro com a tutela das preferências pessoais do senhor tenente-general Garcia Leandro.”

O militar referiu, ainda, outra fragilidade do ministro da Defesa. “Não tem a força política de Miguel Macedo que conseguiu uma delegação de poderes do Ministério das Finanças para tratar dos seus assuntos, coisa que a Defesa não conseguiu”, disse.

O presidente do OSCOT não poupou críticas ao Executivo que, afirma, não percebe o que é o Estado. “Caiu-lhes ao colo o Estado, que não conhecem”, referiu. “A reforma do Estado já foi anunciada há dois anos e não são capazes de a fazer”, afirmou. O Governo “vem com a ideia de que vem fazer História e vem resolver tudo”, analisou, para concluir que não sabe nada.

A este propósito, o texto emitido ao fim desta manhã pelo gabinete de Aguiar-Branco manifestou o respeito pela liberdade de expressão e salientou, referindo-se a Garcia Leandro: “O ministro nunca se sentiu incomodado com as múltiplas e repetidas expressões públicas de discordância ou com as suas aparições em campanhas publicitárias contra a reforma em curso.” Uma referência aos spots televisivos contrários às novas opções no Colégio Militar.

Na entrevista desta manhã, Garcia Leandro manifestou, ainda, inquietação pelo estado de espirito dos militares. “É a desesperança”, classificou. No entanto, sublinhou que “não vai haver posições públicas de violência”. Na origem do descontentamento no seio das Forças Armadas, referiu questões como a saúde da família militar e as horas extraordinárias. “Os militares sentem que não se lhes dá a devida importância”, lamentou.

Apesar destas posições, o tenente-general manifestou a sua discordância sobre as manifestações públicas das associações de militares, como a que ao fim da tarde desta quinta-feira decorre no Largo do Camões, em Lisboa.

Por fim, o presidente do OSCOT afirmou que está em formação um novo partido, que não o Livre, que o convidou para integrar a lista para as eleições europeias, mas que não aceitou.

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