Factura com ou sem NIF “é igual”: os clientes não entram, as vendas são poucas

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Nelson Garrido

Há muito que os clientes deixaram de entrar. Na Praça do Comércio, na Baixa de Coimbra, saltam à vista nas fachadas enegrecidas dos prédios os anúncios de venda e de arrendamento.

As montras vazias das lojas fechadas, escuras no interior, tornam mais nítido o reflexo de quem passa. O movimento escasseia e a chuva ainda complica mais o negócio nesta praça velha da cidade, onde a crise chegou antes da crise de que todos falam.

Conceição Pereira, de 63 anos, dona da loja de atoalhados e artigos para o lar Casa Confiança, viveu um mês de Janeiro "catastrófico" em vendas ("Fevereiro está igual"). Poucos foram os clientes, menos ainda os que pediram para inserir na factura o número de identificação fiscal (NIF) que os habilita para o sorteio do fisco. A preocupação é outra, diz, retomando o tema que mais a preocupa: a "queda muito acentuada" do negócio "de há dois anos para cá". "Há uma certa tendência das pessoas em pedir factura com o número de contribuinte, porque vêem vantagens nisso, mas não é muito significativo", até porque, esclarece, muitos são clientes estrangeiros. "Este ano, tenho notado um aumento [dos pedidos], mas estávamos a contar que houvesse muito mais."

Uns metros adiante, percorrendo a calçada até à Casa Guimarães, uma pequena loja do mesmo ramo de actividade, as facturas não são sequer uma questão. Não há clientes para atender, a caixa registadora está vazia. Entram dois-três clientes por dia, descreve um funcionário. Noutra ponta da cidade, o sentimento de desesperança não é muito diferente no pequeno comércio de rua, que convive com a concorrência da grande distribuição em frente. No minimercado Dona Fátima, em Celas, "passam-se dias e dias" sem que as pessoas peçam [NIF]". Diz a proprietária da loja, Maria de Fátima Coimbra, que "como as pessoas vêm comprar pequenas coisas, não pedem, porque sentem e dizem-me que não vale a pena".

Em produtos de campismo, jardim, artigos de decoração, também "não há grande adesão, embora apareça um cliente ou outro a solicitar", diz Jaime Magalhães, na loja Ricarlina, na baixa. "Quando perguntamos se querem incluir o número de contribuinte, muitos fazem questão de não pedir factura, porque dizem que o Estado quer saber mais do que nós; outros questionam-se como é que um Governo premeia uma coisa que é cumprir um dever". Para já, "há muito pouco entusiasmo", mas "depois do primeiro sorteio vai haver mais interesse", acredita.

Para quem lida com jogos da sorte — como Altino Maurício, de 57 anos, gerente comercial da Casa da Sorte de Coimbra — o concurso não é uma preocupação. Nem o encara como um concorrente directo. "A concorrência são os outros mediadores; a Santa Casa não tem concorrência", responde, quando questionado se tem receio de as pessoas transferirem o esforço dos jogos da sorte para o concurso do fisco. Os jogos da sorte, diz, têm clientes habituais e "ainda não houve um que dissesse que deixaria de jogar por causa do sorteio – pode reduzir o valor que gasta, mas joga sempre".

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