Desobediência partidária já custou muitas expulsões no PSD, alguns acabaram por regressar

Ex-presidente da Câmara de Cascais critica “as oligarquias que governam” actualmente o partido.

António Capucho, ex-conselheiro de Estado, passou a integrar a galeria dos militantes expulsos do PSD. No seu caso, a expulsão pelo conselho de jurisdição nacional (CJN), aprovada a pouco mais de uma semana da realização do Congresso do PSD, deve-se ao facto de ter sido candidato numa lista independente à Assembleia Municipal de Sintra contra a candidatura oficial do partido, nas eleições autárquicas de 2013.

Já em relação a Adriano Jordão, Francisco Sousa Tavares, Rui Oliveira e Costa ou Valentim Loureiro, por exemplo, as expulsões ocorreram na sequência do apoio à candidatura presidencial de Mário Soares, em 1986. O PSD tinha um candidato presidencial próprio, Freitas do Amaral, mas houve muitos militantes que se opuseram a essa escolha, optando por apoiar Mário Soares.

À desobediência partidária, o PSD, que na altura era liderado por Cavaco Silva, respondeu com a expulsão, como aconteceu com o pianista Adriano Jordão, Francisco Sousa Tavares e Rui Oliveira e Costa. Já Valentim Loureiro sofreu uma sanção diferente: dois anos de suspensão. Porém, anos mais tarde, viria a ser expulso por ter avançado com uma candidatura independente adversária à do partido à Câmara de Gondomar, à qual presidia.

Helena Roseta antecipou-se à decisão do “tribunal do partido” e na véspera das eleições presidenciais entregou o cartão de militante. Mesmo assim, o partido ainda lhe moveu um processo disciplinar, que acabaria por não ter quaisquer efeitos.

Ao contrário de Rui Oliveira e Costa, Adriano Jordão foi readmitido pouco tempo depois. “O partido deu uma contra ordem e readmitiu-me, porque entendeu que não se justificava a minha expulsão”, afirmou ao PÚBLICO o administrador do Teatro de São Carlos, revelando que quando decidiu apoiar o candidato do PS comunicou previamente ao PSD e, admite que, talvez isso, tivesse pesado na sua readmissão.

Quase 30 anos depois, Adriano Jordão mantém-se fiel ao PSD e elogia Passos Coelho porque quem, afirma, tem um “grande respeito e estima pessoal”.

Quem nunca sentiu vontade de regressar ao PSD foi Rui Oliveira e Costa - “foi um divórcio por mútuo acordo” -, que um ano depois de ter sido expulso ingressou no PS a convite do então secretário-geral, Victor Constâncio.

O ex-presidente da Câmara de Gondomar nunca sentiu o desejo de regressar ao partido para o qual entrou pela mão de Francisco Sá Carneiro. “Já não tenho idade para a militância”, atira Valentim.

Quanto à sua expulsão nunca a aceitou bem e responsabiliza exclusivamente Marques Mendes, na altura presidente do partido, pelo seu afastamento. Acusa-o de “não ter respeitado as bases do partido”, que votaram favoravelmente o seu nome para cabeça de lista à Câmara de Gondomar. “A concelhia de Gondomar e a distrital do Porto votaram o meu nome, mas a nacional não deixou que eu fosse candidato”, criticou o ex-autarca ao PÚBLICO, declarando que a sua expulsão se deveu a um “desentendimento pessoal com Marques Mendes, o qual nunca foi superado”.

Um dia depois de ter sido expulso, António Capucho queixa-se de ter sido “maltratado pelas oligarquias que governam o partido e que não suportam que existam vozes dissonantes” como a sua.

Na calha estão mais expulsões. Constituído por nove elementos, o CJN é votado em congresso e o actual presidente deste órgão, Calvão da Silva, foi eleito nas listas da direcção de Pedro Passos Coelho que elegeu cinco membros. Os restantes apresentaram listas próprias, mas não representam nenhuma tendência interna.

Este órgão funciona de forma autónoma e é responsável pelo cumprimento das disposições, constitucionais, legais, estatutárias e regulamentares por que se rege o partido.
 
 
 

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