José Manuel Costa confirmado como director da Cinemateca Portuguesa

Rui Machado, ex-responsável pelo ANIM, é o novo subdirector da instituição, para a qual Costa irá apresentar "uma nova proposta estratégica" e "medidas de reestruturação". Sector recebe nomes com agrado.

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José Manuel Costa DANIEL ROCHA

José Manuel Costa, que já ocupava interinamente a direcção da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema desde o início do ano, foi esta terça-feira confirmado pelo secretário de Estado da Cultura como o director da instituição. O novo subdirector da Cinemateca é Rui Manuel Cartaxo Machado.

José Manuel Costa, que sucede a Maria João Seixas na direcção da casa, é funcionário da Cinemateca Portuguesa desde 1975. Seixas, que dirigia a instituição desde Janeiro de 2010, não se recandidatou ao cargo durante o processo de recrutamento para cargos dirigentes da administração pública. A nomeação do novo director é por um período de cinco anos e José Manuel Costa disse esta terça-feira ao PÚBLICO que "muito em breve" irá apresentar "uma nova proposta estratégica para a Cinemateca" e "medidas de reestruturação" da instituição, reservando para essa altura mais declarações. 

Margarida Gil, presidente da Associação Portuguesa de Realizadores (APR), congratula-se com o facto de a escolha da tutela ter recaído em José Manuel Costa, "uma pessoa do cinema, o guardião do tesouro". A realizadora, que quando Maria João Seixas não se recandidatou ao cargo classificou a situação como "inquietante", considera que o nome de Costa, desde sempre associado à criação do Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), "é uma boa escolha".

Também Nuno Sena, programador do festival Indie Lisboa e que desempenhou as mesmas funções na Cinemateca durante cinco anos, considera esta a "escolha mais indicada" tanto para a direcção quanto para a vice-direcção da instituição. Frisa a importância de serem nomes "da casa", profissionais conhecedores da Cinemateca e do ANIM e sua "história, património e função" - Rui Machado será um garante de "continuidade" no ANIM, trabalho que considera "a pedra de toque da Cinemateca".

A "tradição de continuidade" na Cinemateca é, aliás, um exotismo no historial das instituições portuguesas, considera Nuno Sena, que lembra a "longevidade" de Manuel Félix Ribeiro e João Bénard da Costa no cargo e que associa essas características ao reconhecimento internacional da Cinemateca Portuguesa - "desperta admiração em todo o mundo pela qualidade dos seus ciclos, dos seus catálogos, das suas edições". 

Tanto Margarida Gil quanto Nuno Sena concordam que os grandes desafios do mandato de Costa se prendem com a situação financeira da instituição e com o seu modelo estatutário. José Manuel Costa terá "toda a gente da profissão ao se lado", mas "vai precisar de muitos apoios para criar um novo estatuto da Cinemateca e para a manter aberta aos cineastas e a novos públicos", diz a presidente da APR. Margarida Gil reconhece que se trata de "um problema político que transcende o director" da instituição, mas "a Cinemateca é como a Biblioteca Nacional", equipara, referindo-se à autonomia orçamental da biblioteca no Orçamento do Estado. 

Nuno Sena postula: "A grande questão em cima da mesa é a sustentabilidade da Cinemateca" sobre um modelo de financiamento "que é insuficiente para fazer face aos desafios actuais e para continuar a fazer frente a novos" problemas ou estímulos. "É vital continuar a pensar o modelo de financiamento", considera o programador, curioso quanto ao que "a tutela tem previsto para suprir novas carências" na insitituição, cujo funcionamento em suborçamentação tem vindo aser assegurado através de dotações extraordinárias do Fundo de Fomento Cultural. Carências que não passam apenas pelos equipamentos de projecção ou preservação, mas também pela vontade de programar sem estar restringido à sua própria colecção ou de voltar às edições de catálogos e textos, que está parada há mais de um ano. Na Cinemateca não há "uma crise de ideias nem de funcionamento, mas de financiamento", remata o programador.

No ano passado, tornou-se pública a suborçamentação da Cinemateca quando a sua então directora denunciou em Agosto as dificuldades que punham em risco o funcionamento da instituição. A situação era já complexa em anos anteriores, mas as palavras de Maria João Seixas geraram discussão pública e parlamentar sobre uma potencial alteração do modelo de financiamento da instituição, além de uma petição online sobre a situação da Cinemateca.

O secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, reconheceu em Outubro que os problemas financeiros da Cinemateca se agravavam há cerca de uma década sobretudo pela sua dependência das taxas cobradas aos anunciantes nas televisões, que representam mais de 50% do orçamento anual da instituição. A quebra nestas receitas, fruto das alterações na paisagem audiovisual relacionadas com a fragmentação das audiências e com a diminuição dos valores cobrados pelas televisões, “levou a situações sucessivas de socorro à Cinemateca”, disse Barreto Xavier no Parlamento.

Este ano, a Cinemateca, cujo estatuto de instituto público se manteve mas que, ao contrário de museus nacionais ou da Biblioteca Nacional não tem uma dotação própria inscrita no Orçamento do Estado, conta com 1,3 milhões de euros do Fundo de Fomento Cultural num ano em que a sua despesa prevista é de 3,3 milhões de euros, segundo a proposta de Orçamento do Estado para 2014. 

Costa começou o seu percurso na Cinemateca Portuguesa no Serviço de Programação e Divulgação e foi responsável pela criação do ANIM, do qual foi o primeiro director. Ocupando agora pela primeira vez o cargo de director da Cinemateca Portuguesa, integrou algumas equipas directivas da instituição – foi subdirector da mesma em 1996. Foi presidente do Comité Executivo da Associação das Cinematecas Europeias (1991-98) e do Comité Executivo do Projecto Lumière, integrado no Programa MEDIA da União Europeia (1991-96). Paralelamente, além de exercer as funções de professor no Departamento de Ciências da Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, é investigador, membro fundador da Associação pelo Documentário e fundou e dirigiu o seminário Doc’s Kingdom, que hoje co-dirige.

Já Rui Manuel Cartaxo Machado, licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, ocupava até agora e desde 2006 o cargo de chefe de departamento do ANIM. Funcionário da Cinemateca desde 1990, começou como técnico de conservação e preservação fílmica e, segundo nota biográfica enviada pelo gabinete do secretário de Estado da Cultura, foi coordenador da área técnica do ANIM entre 2000 e 2006. Fez parte da equipa de formação da Fédération Internationale des Archives du Film Summer School em 2006 em Bolonha e no seu currículo conta-se ainda a frequência do programa de formação em Gestão Pública da Direcção-Geral da Qualificação dos Trabalhadores em Funções Públicas (2011).

A Comissão de Recrutamento e Selecção para a Administração Pública tinha ainda apurado como finalistas para a subdirecção da Cinemateca Nuno Humberto Pólvora Santos, membro do Organismo de Produção Artística (Opart) e Teresa Alexandra Vieira Campos Barreto Borges, técnica da Cinemateca Portuguesa. Para o cargo de director, concorriam ainda Maria Adelaide Torradinhas Rocha, ex-administradora do Centro Cultural de Belém, e Maria Manuela dos Santos Correia, ex-membro da direcção do Instituto do Cinema e do Audiovisual. 

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